terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ventania noturna


Depois de desembarcar subitamente em sua vida, te descobrir era como acordar de manhã e procurar um novo poema nos livros de Pessoa. Não, você não fazia muito mistério. Seu riso aberto, aquele que me apaixonei no seu álbum de fotografia, era como a porta de entrada para eu me sentir em casa. Se em sua sala de visita os papos pareciam ter sido continuações de longos anos imaginados e reais de amizade, era hora de descobrir o que os lençóis do seu quarto diziam.

E veio a tua pronta resposta para o meu olhar que explodia de vontade. Veio meu toque em seus cachos tão macios e cheirosos quanto a tua pele. O riso contido de duas crianças se escondendo, brincando de se amar por baixo de cobertas e entre paredes. Veio aquela luz da lua, que mais piegas não poderia ser, iluminando o quarto quase abandonado. Parecíamos estar tateando o desconhecido, conhecendo cada parte de bonecos que reagiam ao toque, aguçando cada sentido para poder realizar os mais sensíveis prazeres.

- Posso? – perguntei com o olhar que exalava vontade de te descobrir.
- O quanto você quiser.

Seus olhos fechados, seus dentes mordendo os lábios, seu corpo que se contorcia como quem tenta fugir das prisões dele próprio. Eu te prendia: mãos, pulsos, sentimentos, prazeres. Eu sorria, de canto de boca, para te mostrar o quanto era divertido te tirar do estado normal. Enlouquecer você devagarzinho era a minha diversão daquela noite.

Fui dividindo o meu corpo com o teu pela primeira vez sobre um colchão nu. A coberta no chão, o vento frio que vinha da janela aberta e dois corações que iam respirando. Agora eu tinha teu corpo jogado em cima do meu e sabia como era te querer, ainda mais, desde a primeira vez em que te vi. A calça de moletom ao lado da minha camiseta eram a prova de que você me teve aquela noite. Os olhos cansados e o suor da sua pele eram as marcas de prazer que só a lua foi capaz de observar.

Foi a nossa intimidade fugida, sorrateira, macia. 
Foi o meu desejo de te raptar.
Foi apenas a vontade de viver dentro do seu corpo.
Em outras noites de lua ou em ventos frios dos próximos invernos.

Texto de Patrick Moraes

Texto escrito para o Esquinas inspirado na música "Sim" de Nando Reis.

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