"O não-lugar que faz-se sempre o meu lugar."
"Oi, você.
Não queria te acordar tão cedo para deixar meu abraço mais carinhoso. Acho que seria mais doloroso ver meu ônibus partindo e você do outro lado da janela, em pé, olhando perdido para um horizonte infinito e tão cheio de perguntas. Te dei um beijo silencioso assim que levantei daquele lugar que ontem tornamos só nosso. Como você não se mexeu, te cobri novamente e abri a porta com o máximo de cuidado possível.
Ajeitei todas as roupas na mochila e terminei de me vestir na sala para não te incomodar (na verdade, para não te assustar dos sonhos claramente deliciosos e entregues pelo seu riso maroto). A propósito, a minha camiseta velha de ontem ainda guarda o cheiro do seu perfume. E seu perfume ainda guarda as memórias da nossa noite e das nossas tantas conversas.
Pensei em te ligar mais tarde, quando já estiver há milhas e milhas distantes de você. Mas ouvi sua voz seria uma tortura para meu pobre coração que se perdeu. É, tento acalmá-lo com os velhos discursos de “tudo vai ficar bem” ou aquela frase que você me disse: “não fica assim, um passo de cada vez”. Acredita que ele é tão marrento que bate descompassado em sinal de rejeição a toda essa teoria fajuta feita para enganar a saudade?
Deixei o café coado na chaleira e a geleia junto com as torradas em cima da mesa. Não esquece de ler aquele texto da faculdade e nem de continuar as análises do seu trabalho. Ah, se der, escreve de vez em quando contando como está. Preciso mesmo ir, meu ônibus sai em quinze minutos e não posso insistir para o motorista esperar eu ter apenas mais uma manhã de amor ao teu lado. Ele não entenderia. Ninguém mais entenderia o quanto seu sorriso largo tem sido predador de mim nos últimos dias.
Um beijo afável em cada pedaço de você. Se cuida!
PS: Desculpa as manchas em forma de pingos no papel. Meus olhos estão irritados pela partida e não consegui controla-los."
Carta de Patrick Moraes
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