quarta-feira, 9 de abril de 2014

Aquilo que você deixa aqui



O que fica não é teu sexo tardio ou a tua ligeira entrega. Fica teu cheiro marcado na fronha do meu travesseiro e o toque da tua pele que pareceu provocar calafrios a cada minuto. Fica o sorriso de cabeça baixa na mesa do jantar, o elogio despretensioso quando você entrou no carro, o quase beijo da primeira noite que encostou teus lábios no canto direito da minha boca.

Não tem nada a ver com teus olhos serem os mais bonitos, nem teu corpo ser o que causa desejo por onde passa. Tem a ver com a forma como você agitou as borboletas adormecidas que vivem aqui dentro. Tem a ver com os sorrisos bobos que teimaram em aparecer durante o dia em meio aos pensamentos soltos. Tem a ver com as horas que se arrastam quando só cabe saudade para definir o que a rotina nos impôs.

Você não deixa lembranças quando se esconde atrás desse muro de incertezas criado para autodefesa. Você só se frustra ainda mais com esse tal de amor que nunca deu certo em sua vida. Na realidade, você só deixa marcas na pele quando se entrega: aos desejos, aos encantos, às incertezas que o destino te reserva, mas que só você pode dizer sim. Você somente deixa marcas aí dentro quando me dá sua mão e finge não ver todos os olhares daquela gente careta que se alimenta de pequenices vazias.

Quer saber? O que fica é aquela tua companhia do fim de semana passada, aquele teus olhos apertados acordando e dando de cara com meu bom dia em forma de sorriso de cara amassada. O que fica é aquele abraço de despedida que, sem palavras, grita “fica mais” ou “volta o mais rápido que você puder”. Porque tudo isso tem a ver com sentir e sentir não tem nada a ver com regras, manuais, segredos e escudos de romances mal terminados do passado.

Texto de Patrick Moraes