sábado, 16 de novembro de 2013

Quando você se foi


Make You Feel My Love by Glee Cast on Grooveshark

Segurei sua mão como se ainda quisesse te segurar aqui. Era estranho te olhar daquele jeito, como se a qualquer momento você pudesse ir, pra algum lugar desconhecido e especial, e eu não pudesse mais sentir o cheiro exato daquele seu perfume forte. 

- Fica bem aqui. Cuida de todos e de você. Do seu coração que tanto me amou e que tanto me fez acreditar que bastaria um sorriso de dentro para tudo ficar radiante cá fora.
- Não sei se consigo cuidar de tudo sozinho. Não sei me equilibrar se quer no coxim de uma bicicleta, imagina segurar um coração sem tua ajuda.

Mesmo sem força, você segurou minhas mãos e suavemente me pediu para ficar em silêncio. Eu não sabia como dizer todos os mais nobres sentimentos que construímos, muito menos conseguiria me despedir. Mas, em silêncio, meu coração ardia pelas lembranças que se tornariam presente constante e imperfeito, meus olhos ardiam pelas lágrimas que insistiam em nunca secar e meu corpo apenas respondia a tudo com a inércia desesperada de quem não consegue pensar em um segundo plano sem você.

- Você é a minha pessoa. Aquela que me fez remoer expectativas quando te vi me olhando timidamente, pela primeira vez, enquanto eu atravessava o pátio do colégio. Você é quem acordou de madrugada, enquanto eu soluçava por mais um pesadelo, e me disse que tudo ia ficar bem com o abraço mais aconchegante que eu poderia receber. Não, não quero deixar você ir. Você é quem eu escolhi para dividir todas as minhas noites, todos os nossos dias, todos os meses de anos que construiríamos pelo resto da vida. Você é tão parte de mim que já não sei como me ajustar quando levantar amanhã da cama para mais um dia nublado sem teus beijos na testa ou aquele abraço corrido.

Você suspirou e apertou, pela última vez, a minha mão. Era como se dissesse “vou estar sempre aqui, para você, mesmo que não possa segurar sua mão como agora”. Era como se ali, meus dias tivessem parando, meu coração estivesse despedaçando e o futuro passasse a se desconectar dos nossos sonhos.

Aqueles dias de domingo no jardim cheio de jasmins, com o seu cachorro desastrado correndo atrás de mim e o som alto da sua risada acompanhando o pânico dos meus gritos. Aquele cafuné no meio da semana, enquanto a gente via pela décima vez a minha comédia romântica preferida que você não aguentava mais, mas acabava cedendo só pelo cafuné. Aquela viagem à praia em que você me arrastou para o mar, mesmo sabendo o quanto eu odiava o sal grudando em meu corpo. 

Ah, meu amor, eu sempre amei o quanto você, insistentemente, me fazia encarar meus medos. Mas tudo isso se foi. Você se foi. Todo nosso baú de afetividades se foi junto com as lágrimas que enxuguei em suas eternas descobertas diárias. Todos os segredos confessados baixinho no escuro do nosso quarto morreriam agora dentro de mim, acompanhados de uma saudade que me despedaçaria por longos meses. 

Agora eu já não podia mais te provar o quanto eu lutaria com o mundo para ter o seu sorriso de novo. Eu não poderia te mostrar que a gente formava o mais belo dos casais apaixonados e que meu coração sonhava em dormir e acordar todos os dias contigo. Tudo que resta, agora, é segurar sua mão pela última vez, fechar os olhos e sentir nosso amor escorrer pelo meu rosto para se acalmar, mais tarde, em meu coração. Tudo que me resta, é saber que, onde quer que você esteja, você fará morada, para sempre, dentro de mim.

Texto de Patrick Moraes