domingo, 30 de janeiro de 2011

Confessional Dois


Eu sei guardar segredo
Eu sei amar.

(Sandy Leah)

Troquei a blusa, tirei o tênis, peguei um pedaço de papel velho e escrevi a palavra mais importante do mundo nessa noite: CANSEI. É, nada mais me basta e dizer isso parece nem bastar para que meus sentidos se dêem conta e saiam em busca de um outro cansaço menos fadigado. Olhei pra trás e percebi que as últimas marcas pisadas nem de lama eram, ficaram tão fracas que mal consigo deduzir de que lado que eu vinha. A caneta começou a falhar bem na hora que eu ia escrever as primeiras letras da palavra amor. Só podem estar de brincadeira! Eu sei que amor que se preze a gente não encontra na esquina, meia noite de um sábado. Acredito mesmo é na fila da carne dentro do supermercado, em uma saída despretensiosa para comprar o pão ou, fatalmente, em uma batida de carro na esquina do prédio.

E se desespero é sinônimo de carência, talvez meu dicionário precise de algo um pouco parecido para conseguir explicar o meu desassego. A ideia de estabilidade me parece agora a pior possibilidade, preciso é de tremor, calafrios e uma necessidade angustiante no peito de repetição. Ser livre me basta até o ponto em que não sei mais pra onde dirigir e, em meio a ruas desertas, resolvo fazer a volta, pela contramão, e estacionar em casa. Subo, 65 degraus, e deito. Aqui talvez me baste e aqui talvez eu queira voltar sempre que doer. Uma hora da manhã, a noite terminou!

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Confessional


We were born and bred in a summer haze bound by the suprise.
(Adele)

Sexta-feira, nublada, chuvosa, do jeito que há muitos dias eu não sentia. Ainda estava naquela cidade, ainda vivia em pleno verão, mas talvez aquele fosse um pequeno indício que nada permanece como está pra sempre. Já não sei mais o que me basta, acho que sumiram com a peça do quebra cabeça que continua a sequência de amores inacabados e alucinantes. Rasgaram! A folha rosa citilante caiu na poça de lama logo ali em frente e perdi a vontade de me melar para salvá-la. Experimentei novidades da mesma essência sem consistência e vazias.

Cheguei até a passar na porta do passado, e, por pura fragilidade, olhei pelo portão em busca de uma luz acessa. E se tivesse luz? Já não sei se prefiro ficar no escuro ou me fazer cego em meio a holofotes descaradamente sofríveis. Mas passado gostoso que se preze tem que machucar pra ser lembrança. Cresci aqui, mas parece que deram corda para o boneco agora. Talvez eu queira um eterno verão, sem amarras, com uma dose de segredos, porém com um queimor angustiante no final da noite.

Acabei aceitando a caixa de chocolate e deixando o sentimento de cada bombom de lado. Não me tornei amargo, só não quero ser doce a ponto de enjoar na última mordida. Antes do final a gente pode escolher parar e dar continuidade em outra frequência. E melhor que sejamos sinceros, que fiquemos perdidos em nossas confusões e que, mais cedo que ontem, você descubra o quanto eu posso tropeçar em certezas. Não, eu simplesmente crio barreiras quando a visita não é bem vinda. Nos demais casos? As portas vivem destrancadas, é só bater com jeito e limpar os pés no tapete vermelho antes de entrar.

Texto de Patrick Moraes