segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Beth

Running in circles, chasing tails, coming back as we are. Nobody said it was easy! (Coldplay)

Aquele mero detalhe mudado na sexta até ontem não fazia o menor sentido, não alterava minha capacidade de rir, muito menos a forma como eu conduzia meus desejos. Mas toda aquela sensibilidade que eu trazia em cada construção simplesmente se desfez, ou melhor, se refez. Refez em outra forma de ser sensível, em outro ritmo para pulsar. Poderia ter sido como o castelo de areia que o mar simplesmente derrubou as duas torres, levou a bandeira, mas esqueceu de tirar a ponte que abriu o portão da frente.

Aquele sorriso largo por debaixo do boné vermelho já não me deixava tão bobo em contar os minutos, não instigava meus ouvidos por um bloco do eu sozinho e muito menos sentia que dessa vez o ser sensível estava esperto. Ele continuava bobo, continuava disperso na multidão de incoerências e verdades que quis mentir pra si. Dançava na chuva sem se preocupar em molhar a roupa, em transparecer desejos, em deixar a água revelar a alegria por ter se encantado aquela noite. Poderia ser simplesmente o menino loirinho que corria a praça inteira na intenção de achar a bola grande, colorida, transparante.

Aquele laço de verdade contado por simples dedos, por incansáveis elogios. O ser quase ingênuo, o meio duvidar acreditando, o simples entregar a parte instável ao mínimo de confiança. Era a parte que pendia da gangorra, o arranhar dos pés quando o balanço azul não voava tão suave. Era o pássaro que ele viu azul se tornando lilás, vermelho, rosa, amarelo. Poderia atuar como Adam, berrar depois de ler a agenda com um mero detalhe enganador e, por fim, entender que os guaxinins podem não morar ali, mas com certeza se mudarão a cada noite em busca do jardim escuro.

Bolas murchas, desejos mais sinceros e uma ponte em reconstrução. Talvez os livros de Beth tragam um sentido para toda a história!

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Devaneios

"Sure i can accept that we're going nowhere, but one last time let's go there." (Paolo Nutini)


Esboçava levantar e não conseguia. Rebatia a cada sensação de repulsa que imaginei. Não podia acontecer de novo e eu tinha certeza que aquele sorriso era seu. Eu via nossas juras de anos atrás serem feitas, mas dessa vez eu sabia que você estava mentindo. Ou que nós éramos como o casal de pássaros em cima da rede de fios que cortava o sobrado que você morou. Eu sabia que a moto ia virar na próxima esquina ou que seu punho forte ia ser fraco para aguentar o simples aperto de mão que você sempre demonstrava em público.

Desesperadamente eu ergui as mãos e arranquei a coberta, que dessa vez era cinza. Mas mesmo assim não conseguia abrir os olhos, eu queria te ver de verdade e tinha medo de romper com o campo de pertubação que eu enxergava. De repente te vi de outra forma, em outra cor, com outro tamanho e com a mesma maneira imbécil de conquista. De repente eu senti que agora era mais forte, menos apaixonado e mais avassalador. Era menos princesa, se reconstruia em um personagem meio épico, meio moderno, na figura mais capciosa que eu podia desenhar mentalmente. Era puramente instintivo, meramente ilusório, refletia um espírito audacioso, penetrante e canalha.

Why would you speak to me that way? - Eu talvez te perguntasse isso, eu talvez te questionasse tantos porquês que ficaria insuportavelmente assustador pra você. Mas tudo não passou de um sonho e a pergunta vinha do despertador que me chamava para outros olhos ao levantar.

Texto de Patrick Moraes