sábado, 27 de julho de 2013

Eu te amaria...


Todos os pecados e perdões bagunçavam minha mente aflita, meu coração despedaçado e meus olhos desesperados pelas suas certezas. Eu parecia nunca ter saído do parquinho do colégio e o balanço acelerava bruscamente. Meus pés já começavam a arranhar forte. Mesmo que eu quisesse, era impossível controlar a velocidade daquilo tudo. Dar um basta era como desafiar o percurso natural do vento.

Assustei!

Você estava ao meu lado, com a cara de sono mais linda e preocupada de todas. Mais uma vez eu tinha calafrios e pesadelos no meio da noite em apenas uma semana. Sentei na cama, me apoiei em seu colo e duas lágrimas desceram. Será que você iria entender um dia o meu medo de te ver partir?

- Eu te faço tão mal assim?

Mal sabia você que o grande mal veio do amor. É, mal de amor é desse jeito. Pra mim, que sempre fiz dos sentimentos verdadeiros camburões vigiados e controlados pelos mais rígidos sensores, aquilo era uma ameaça.

- Você me amaria se tivesse que acordar todas as noites e enxugar minhas lágrimas desesperadas? Você me amaria se descobrisse que meu corpo não poderia ser tocado por alguns meses? E se descobrisse que nossos dias juntos estariam destinados ao fim com a minha partida? Você me amaria se eu te pedisse mais espaço no guarda-roupa ou que você nunca mais deixasse a toalha molhada em cima da camisa que eu separei para usar amanhã no trabalho? Você ainda ia acreditar se eu dissesse que não te quero todos os dias e que preciso dos meus dias de solidão? Que apesar do meu amor desesperado e entregue, você é você e eu sou eu, mesmo que nós dois formemos uma combinação incrível juntos?

Respirei. Seus olhos misturavam o medo de pensar em cada pergunta com o desejo de responder que me amaria acima de qualquer coisa só para conter minhas lágrimas.

- Eu te amaria por todas as coisas que conheci em você. Pelas nossas brigas, pelos teus choros na madrugada e até pela tua mania insuportável de querer as coisas sempre do seu jeito. Eu te amaria ainda que não pudesse repetir as melhores transas que tivemos, ainda que soubesse que você teria que partir ou que eu não pudesse mais compartilhar dos meus dias com os teus. Eu te amaria sem qualquer mudança sua ou com todas que forem preciso. Eu te amaria se tivéssemos que dividir uma cama de solteiro, um quarto apertado e uma vida corrida. Eu te amaria pelos teus beijos ou só pelo teu cafuné no final da noite. Eu te amaria pelos teus versos que nem sempre entendo, pelas tuas confusões sentimentais, pelo teu coração nobre. Eu apenas te amaria, sabe?

De certo, ainda que perto, o mal de amor que você trouxe será sempre o vilão de cada poema que rabisco todas as noites quando você não está. Adormeci, ainda no seu colo, mas lembro de ter ouvido as três doces palavras que me acalmariam aquela noite. 

- Eu te amaria...

Texto de Patrick Moraes

Texto inspirado na música "Não Precisa Mudar"
para o projeto Esquinas

terça-feira, 2 de julho de 2013

Beijo roubado

"e, se eu pudesse, faria você feliz."


- Ainda não estou pronto.
- Só quero te roubar um beijo.
- Aqui?
- Sim. Onde todos possam ver minha vontade de te tornar meu ao menos hoje, ao menos agora.
- E depois?
- Depois você pode correr sem ao menos olhar pra trás, sem se despedir, sem dizer se foi doce ou deixou o amargo sabor de um beijo roubado. Depois você pode não me fazer juras de nada, pode apenas fazer de conta que nada aconteceu ou gaguejar qualquer expressão sem qualquer sentido que eu deixo. Depois é só o momento que a gente não precisa pensar agora, ele vai vir você permitindo que seja refeito ou não.
- E se eu não tiver forças pra correr?
- Eu te seguro, te coloco em meu colo e te entrego meia dúzia de sorrisos entre um beijo e outro dos vinte nove que te prometi meses atrás.

Levantei antes que você pudesse se virar na cama e me alcançar com seus braços longos e quentes. Não queria ter que me despedir dos teus beijos, do teu coração carente e dos teus olhos pequenos. Corri no espelho, peguei o primeiro batom que sobrou, jogado ali em meio à peças íntimas e roupas da noite anterior e rabisquei as palavras mais rápidas e acordadas.

“Tive que ir, mas te desculpo por me querer mais do que eu mereço.”

O coração bateu a porta mais forte e desesperado possível. Era como se eu estivesse fugindo da possibilidade de me refazer. Uma verdadeira fuga pela (re)criação de corações que sorriem. Você de risos espalhados pelo olhar pequeno e que me amou em cada pequena estrela que se confundia com nossa felicidade noturna; você que adormeceu em meu colo enquanto eu acarinhava seu cabelo macio e repousava minhas pernas cansadas nas suas aconchegantes. Você que brincava como em um casamento na roça no qual nada mais bastaria além de um chapéu de palha, dois amores e um altar. Você que soube ser meu, mesmo sabendo que eu ainda não poderia ser totalmente seu.

Sim, eu te perdoava por ser o que todos mais desejariam em noites frias com balões no céu. Eu te perdoava por trocar os teus minutos pelos nossos beijos, mesmo sabendo que depois a ausência de uma despedida seria o primeiro dos nossos legados, o símbolo de um casal que se refaz a cada começo de festas e se perde nos últimos minutos de uma multidão afoita de alegria.

Texto de Patrick Moraes