"e, se eu pudesse, faria você feliz."
- Ainda não estou pronto.
- Só quero te roubar um beijo.
- Aqui?
- Sim. Onde todos possam ver minha vontade de te tornar meu ao menos hoje, ao menos agora.
- E depois?
- Depois você pode correr sem ao menos olhar pra trás, sem se despedir, sem dizer se foi doce ou deixou o amargo sabor de um beijo roubado. Depois você pode não me fazer juras de nada, pode apenas fazer de conta que nada aconteceu ou gaguejar qualquer expressão sem qualquer sentido que eu deixo. Depois é só o momento que a gente não precisa pensar agora, ele vai vir você permitindo que seja refeito ou não.
- E se eu não tiver forças pra correr?
- Eu te seguro, te coloco em meu colo e te entrego meia dúzia de sorrisos entre um beijo e outro dos vinte nove que te prometi meses atrás.
Levantei antes que você pudesse se virar na cama e me alcançar com seus braços longos e quentes. Não queria ter que me despedir dos teus beijos, do teu coração carente e dos teus olhos pequenos. Corri no espelho, peguei o primeiro batom que sobrou, jogado ali em meio à peças íntimas e roupas da noite anterior e rabisquei as palavras mais rápidas e acordadas.
“Tive que ir, mas te desculpo por me querer mais do que eu mereço.”
O coração bateu a porta mais forte e desesperado possível. Era como se eu estivesse fugindo da possibilidade de me refazer. Uma verdadeira fuga pela (re)criação de corações que sorriem. Você de risos espalhados pelo olhar pequeno e que me amou em cada pequena estrela que se confundia com nossa felicidade noturna; você que adormeceu em meu colo enquanto eu acarinhava seu cabelo macio e repousava minhas pernas cansadas nas suas aconchegantes. Você que brincava como em um casamento na roça no qual nada mais bastaria além de um chapéu de palha, dois amores e um altar. Você que soube ser meu, mesmo sabendo que eu ainda não poderia ser totalmente seu.
Sim, eu te perdoava por ser o que todos mais desejariam em noites frias com balões no céu. Eu te perdoava por trocar os teus minutos pelos nossos beijos, mesmo sabendo que depois a ausência de uma despedida seria o primeiro dos nossos legados, o símbolo de um casal que se refaz a cada começo de festas e se perde nos últimos minutos de uma multidão afoita de alegria.
Texto de Patrick Moraes
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