domingo, 27 de março de 2011

Ironicamente

E quem teria imaginado... isso acontece!
Alanis Morissette

Essa noite nem tinha aquela grande lua cheia para eu sentir o desejo de deitar em teus braços e por pelo menos mais uma vez sentir o toque dos teus dedos e o olhar bobo de criança que sabe o quanto está brincando errado. Essa noite eu não esperaria o celular tocar com teu número no visor, muito menos o bipar de umas três ou quatro linhas escritas pra dizer como foi o dia. Essa noite eu não teria a irônica sensação de estar me completando depois do pedaço vazio que sobrou das linhas tortas daquele carnaval.

Ainda sinto falta da atenção inesperada, da voz mimada que embaraçava meus sentimentos na tentativa de me tornar mais uma vez o menino enfeitiçado por uma paixão adolescente e idiota. Brincar sempre foi seu forte, mas quando se tem a chance de jogar novamente a partida fica mais difícil. Eu sei que gosto de jogos, me seduz a simples ideia de mais uma partida onde o risco de sair de campo derrotado é grande. Dessa vez, acho que nem chegamos a rodar o placar, ou simplesmente eu te mostrei que não valiamos a pena assim. Suas regras não contemplam meu tabuleiro e meus peões não conseguem chegar no grand finale do seu.

Agora que eu estacionei o carro na garagem de casa, ironicamente Alanis veio me dizer que quando tudo está ok, a vida simplesmente tem um jeito engraçado de aprontar com você. Talvez tenha sido isso, mais uma piada boba, um simples divertimento de verão, que o vento acabou de levar. Abaixei o banco e fechei os olhos por alguns minutos. Consegui lembrar do beijo roubado no meio da multidão, dos teus olhos cheio de dúvida enquanto eu deitava no seu ombro e daqueles mesmos olhos sorrindo com o coração na mão. Coração doce! Coração que não resiste muito tempo sendo usado. Derrete e acaba. Ironicamente, consegui guardar aquilo tudo com carinho e passar adiante. Quem ousou pensar que vale a pena remoer etapas finalizadas realmente não conhece o sabor das novidades. Você continua nas melhores lembranças, nos cantinhos que consegui ajeitar cheio de doces sorrisos, mas, ironicamente, já não faz mais parte de mim depois que abri os olhos essa noite.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 16 de março de 2011

Sinal fechado

What I have to say can't wait, all I need is a day, so let's runaway.
Bruno Mars

Engraçado como um tijolo fora do lugar é capaz de derrubar um prédio inteiro. Já pensaram em quanta coisa poderia ter sido diferente se uma mera peça do quebra cabeça estivesse torta ou se encaixasse em outro lugar? O despertador que não tocou, a chave do carro que você esqueceu na mesa do escritório e voltou pra buscar, o dia que adiou a academia por mero desleixo, a festa que deixou de ir porque simplesmente preferiu chorar por um relacionamento fracassado.

Me dei conta hoje que você é uma dessas peças de quebra cabeça que veio torta. Bem ou mal, tô desmontando um pedaço de mim aos poucos só pra reconstruir um caminho mais rápido de chegar até você. É aquela história do sinal fechado, da luz vermelha, do momento em que aquele velho boné conseguiu me colocar em estado de espera. Incessante e aterrorizante espera! Sou capaz de dizer que você é aquela placa de contramão no caminho que eu cruzava todos os dias. O mero detalhe que consegui enxergar de novo, que conseguiu modificar de novo.

E hoje eu seria capaz de mudar os horários de cada despertador que aparecessem só pra fazer a cidade amanhecer mais rápido. Pegar cada segundo de suspiro só pra dá uma fugida e te olhar, ao menos de longe, pra ver que tá tudo bem. Hoje eu queria ficar instável na estabilidade dos teus braços, na incerteza dos próximos dias, no pulsar agitado do teu corpo e no simples sussurar em meus ouvidos. Eu queria mesmo uma via fora da principal que me levasse no alto daquela montanha e calassem todos os segredos em gestos. Trocar olhares por beijos, silêncio por gemidos, sonhos por toques. Eu sei que o prédio construído até poucos dias atrás está perto de desabar, mas certos tijolos merecem a chance de ser trocados assim que o sinal vermelho acende.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 11 de março de 2011

Linhas tortas de um Carnaval


Escrevo com tanto tremor
as linhas tortas de um Carnaval
que pareço viver agora
a intensidade do teu abraço.

Já havíamos decidido ser outros dois e nos fazer um casal diferente daquela construção mal acabada. Resolvi te dar a chance de mais uma vez ser, no mínimo, companheiro. Eu até pensei na possibilidade de me atrair de novo, mas o coração só chiou baixinho quando te vi na primeira vez. Superei e ainda sairíamos amigos disso tudo. Ótimo se fosse assim!

Pontualidade realmente não te pertence. Acho que em sua fabricação esqueceram o relógio e acrescentaram mais mãos do que deveria. Mãos de afago, mãos de cafuné gostoso, mãos de um simples segurar na cintura. E de repente eu queria sentir toda a felicidade daquele lugar, engolir cada simples sorriso que exalava dos quatro cantos e subir, o mais alto que eu pudesse, gritando cada pedaço da música. Dançamos, sorrimos e você disse que naquele momento me queria. O chiado simplesmente emudeceu e sorriu, baixinho ainda, tímido. Te dei a possibilidade de me fazer feliz e você conseguiu tornar inesquecível. Se amanhã não for, não tem tanta importância, você foi inteiro ali, comigo. Nossos olhos se beijavam e teu sorriso queria me devorar.

Aí veio a vontade de mais. Veio o desejo de te fazer companhia por pelo menos mais algumas horas, de uma tarde de final de Carnaval. Resolvi arriscar, deixar que os foliões alegres moressem de inveja de nós dois, e sorrir do teu lado naquela fila imensa do cinema de quarta. Resolvi simplesmente me permitir a sensação de perigo. Ganha o jogo quem conseguir levar tudo isso adiante, ganha o jogo quem conseguir sorrir a cada vez que encontrar os olhos pidões do outro. Só perde quem não quiser ganhar, e isso não é assunto pra um dado que mal começou a rodar.

Texto de Patrick Moraes