domingo, 26 de dezembro de 2010

Balanço 16/51

Mas só vou sambar com você pra divertir.
(Roberta Sá)

Roberta Sá continua sendo a voz que mais me encanta, continuo morando no mesmo 1004 e meu coração perdeu o rumo depois de tantas tentativas em ser sincrônico. As 51 ideias não passaram de meros planos que esperarão no próximo ano. Por sinal, detesto paridade anual e sei que isso é apenas mais uma percepção sem tanto fundamento, mas com tamanha força que atrai energias. Cresci e sei que não foram simples centímetros, a régua fez questão de mostrar que distância e afetividade nem sempre são compatíveis. Percebi que posso assumir as rédeas da situação e deixar muita gente babando pelo galope do meu cavalo. Fui nas extremidades e cheguei a conclusão que o veneno pode matar tanto pelo excesso, quanto pela falta. Infelizmente não provei todos os gostos filmícos, não li todas as frases clichês descompaçadas que conseguem me entender, muito menos aproveitei as oportunidades de conhecer o você eterno perdido por aí. Passei duas horas com a amiga que foi a metade de minha vida e percebi que o tempo é realmente amargo, capaz de esvaziar cumplicidades, mesmo que nunca consiga apagá-las. Não comecei a escrever um livro, mas tive ideias pra falar de tantos vocês que troco olhares todos os dias, em cada esquina ou passagem de carro em frente aos prédios vizinhos. As coisas quentes se limitaram ao sol de Jequié e alguns dias na capital baiana. Boas lembranças, pequenos firmamentos, mas saudosas experiências. Novos sabores, novos perfumes, velhas sensações, um ciclo de déjà vu. Tive a certeza de que quando alguém é passado não devemos mudar a condição temporal dessa pessoa no intuito de um futuro perfeito. Recaídas são sempre novas caídas e a gente só sente quando o joelho bate na pedra que a gente mesmo jogou. Reconheci que os rostos mais bonitos trazem as essencias mais insuportáveis, mas que continuo sendo teimoso na busca da pedra de topázio em meio a um deserto de jóias falsas. Desisti no processo de canalização de forças para atividades físicas. Em poucas palavras, preguiça é realmente um karma que carrego abraçada com quatro braços. Não banlacei as 25 prometidas vezes essa gangorra, mas com certeza oscilei bem mais que isso durante meu apasseio anual pelo parque de diversões. Resolvi arriscar um balanço, uma roda gigante e até mesmo o carrinho de bate-bate. Acredite, a aventura das batidas aceleram demais o coração e eu ainda prefiro o arrepio na nuca provocado pelo vento quando a gangorra sobe. Cumprir metas é sempre um problema e minha lista ficou quase intacta, sem riscos nas propostas que exigiam mais coragem, menos roupa e, até mesmo, mais romantismo. Acho que resolvi tirar toda a tinta vermelha da gangorra e usei o restinho que sobrou na lata no nariz. Não, ser palhaço não é ruim, desde que você saiba rir das próprias piadas que a vida prega. Mas depois tem que saber retribuir e na maior medida possível!

2011? Talvez eu faça mais uma lista cheia de libido, viagens e conquistas. A única certeza é que o item 1 está fora da escala.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sem estrela


I missed the opportunity
To get you babe to stay with me.

(Jamie Cullum)

Eu resolvi passar na porta da sua casa hoje mais cedo. Deixei dentro de um envelope branco todos os pedaços de lembranças e do meu coração que um dia pensei em fazer um vitral. Desisti da ideia antes de perceber as imperfeições que os cacos formariam associadamente. Eu só queria subir mais dois degraus e ouvir quantas risadas você estaria dividindo com quem te roubou de mim. Sinceramente eu nunca vou me perdoar por ter deixado você sumir da porta de minha casa naquela manhã. Você deixou o pior presente debaixo da minha árvore de natal e ainda conseguiu esconder a estrela brilhante em uma caixa preta, escura e apertada. Ela sofre, ela dá sinais de vida bem raramente, mas ela nunca mais conseguiu chegar ao topo daquele pé verde que eu tentei arrumar esse ano novamente.

Antes de deixar a carta, que por sinal manchou de lágrimas e pingos de tinta vermelha, eu tinha feito um desejo. Não, eu não seria tão cruel em desejar você de volta. Eu só queria te ver inesperadamente cruzando a praça e me dizendo que não conseguia tirar meu perfume de você. Eu só queria ter a certeza de que não passei, que a estrela você escondeu de propósito para mostrar que o melhor nem sempre está no saquinho vermelho do gordo de gorro. Não me interessa quantas vezes você dividiu a cama com outros corpos, eu queria ouvir teus gemidos de prazer que nunca sairam da minha cabeça. Sem bis, sem sonhos de valsas, sem passeios nas manhãs de domingo. Mas eu queria apenas te dizer que passei ali onde a gente chorou por causa das minhas inseguranças, por medo das tuas incertezas. E mesmo que os goles de champagne sejam sem brindar, eu vou olhar pra espuma e sorrir, preferindo aquela cachaça com chocolate.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 12 de dezembro de 2010

Outra vez

dos amores que eu tive
o mais complicado, o mais simples pra mim
o maior dos meus erros, a mais estranha história
(Maria Bethânia)

Sentei naquela mesa de bar com todos os copos coloridos em frente e se quer pensei em não rir aquela noite. Morango, por favor! Com som, a noite parecia apenas começar e logo os papos de futuro, o desejo de uma liberdade sem cobrança e de uma provocação a cada lado que eu pudesse olhar. Realmente, queria companhias interessantes, risos novos e uma felicidade em dividir um simples copo de vodka com limão e áçucar.

Aí que chegou o divisor de águas, o que eu menos queria pensar, muito menos ouvir. Soava mais forte, talvez fosse o timbre daquela cantora de bar, daquele violão antigo. Talvez minha saudade nem me fizesse lembrar de tudo outra vez, ali, no meio das bebidas vermelhas, verdes e amarelas. Mas deu vontade de te ver e sofrer mais uns minutos, uns dias. Deu vontade de saber que você não nasceu pra mim, mas que eu sou uma criança bem birrenta e quero a peteca rasgada que o menino da rua de baixo brinca. E você poderia caber naquela mesa mais uma vez, ao lado daquelas pessoas que nunca conseguiram te enxergar sem as brincadeiras e com tua verdadeira intenção comigo. E antes que eu começasse a pensar em todas as combinações que deveriam dar certo, em nossas transas, em nossos risos apaixonamente idiotas, em nossas implicâncias, nas mordidas de canto de boca com o olhar sonso ou com o puro medo de perder de vista o que até ontem era só nosso. E antes dessa parafernália de lembranças, o repertório mudou. Saiu de Bethânia e foi pra Rita, chegou no samba, chegou na encarnação da nova etapa de vida que talvez eu nem fizesse questão de viver, mas vivo. Aí esqueci aquela queixa, aqueles lugares que passei e lembrei dos próximos passos molhados, na areia. Será que cada pequeno poema de saudade me retomaria você? Será que isso é dizer com peito cheio que amei?

Vai ver as respostas estão no morango.

Texto de Patrick Moraes