segunda-feira, 4 de junho de 2012

Olhares ávidos


I'm done with my graceless heart, so tonight I'm gonna end it.
(adaptado de Florence + The Machine)

Cansei de pontos e vírgulas que se tornam reticências com o derreter de um pingo na caneta de tinteiro. Parece que os fragmentos de amor se tornaram tão pequenos que se afastam, como poeira em meio a um deserto de olhares ávidos por um final de novela das oito. Já não me interessa saber todos os teus sujeitos, teus períodos, ainda que eu esteja aqui enchendo um texto só meu de orações sem sentido, em um fim de domingo, em um fim de uma ligação que perdura mais do que deveria.

Entre palavras trocadas, uma desculpa. Entre olhares trocados, uma perda. Entre aquelas (in)verdades ditas, uma maldição. A maldição capaz de transformar o que antes era belo em um simples espelho quebrado, com cacos que feriram. Por sorte, corri; e o que todos os olhares - dessa vez, ávidos por sangue - desejavam, não foram capazes de gerar mais que arranhões. Ainda aqui, sobre a pele, as marcas me fazem reviver sensações e olhar para um escuro tão mais claro quanto seria capaz de enxergar.

Um entremeio. Grades. Um aqui tão apertado que tonteia, nebula.
- Saia. Voe. Busque sua liberdade. Só nunca esqueça: a intensidade jamais será a mesma se não for (tão) alto. Aqueles olhares ávidos? Ainda estão te olhando, cá de baixo, para que não saia de tão perto deles, ainda que te faça subir por vezes em um espaço tão raso quanto aquilo que nos tornamos.

Texto de Patrick Moraes

Um comentário:

iaracaldwell disse...

Gostei muito, muito do seus textos. São curtos, concisos e muito interessantes.
Um abraço.
Iara Caldwell.