domingo, 7 de setembro de 2014

Indecisão



A cama permaneceu vazia desde que você foi embora. Aos poucos, o frio se aconchegou no meu peito, e eu senti a falta dos teus carinhos no meio da madrugada esquentando minha alma. Parece que o vento que soprou nossos primeiros beijos, agora ecoa no meu peito a sensação de vazio. Seu adeus naquele fim de tarde não deveria ter vindo com tantas incertezas. Nos tornamos dois perdidos em meio a toda essa multidão de impressões mal resolvidas. Se os carinhos me convencem, as diferenças me assustam. Os teus medos se confundem com os meus medos nesse jogo injusto de quem se entrega primeiro.

Olhei no relógio e já havia passado das três da manhã. Meu coração apertou ainda mais forte quando, pela janela, só restava uma estrela no céu. Do tamanho da minha esperança, aquela estrela logo sumiria quando a manhã chegasse. Mesmo que restasse um brilho opaco, mesmo que ela apenas se escondesse por um tempo até voltar mais tarde, não existia certeza de que amanhã ela estivesse aqui. Era assim com a gente. Meu coração pequeno te via como uma estrela solitária, perdida longe de mim. As certezas sumiam toda vez que você ia embora. A esperança se diluía toda vez que as diferenças explodiam em nossa frente e nos afastavam um pouco mais.

Peguei no sono sem saber quantas horas passaram. Em sonho, tudo parecia ainda mais confuso. Minha pele se arrepiava com as lembranças dos teus beijos inesperados na porta de entrada do meu apartamento. Meus olhos choravam pela tortura do teu silêncio em todas as noites em que nos deitávamos a sós no sofá da sala. De repente, meu corpo se sentia exausto por tanto esforço para entender o que somos agora. Entre todas as perguntas, o teu silêncio me entregava uma carta em branco, sem resposta, sem remetente, sem qualquer pista que me ajudasse a decifrar o nosso amor. Mas era amor? Talvez fosse só o tal de amor que a gente chamou de nosso: sem juras, sem contratos, sem alianças. Talvez fosse uma forma de querer bem que eu ainda não descobri. Talvez fosse só o mar de “talvez” que você sempre deixa quando vem, vai embora e vem de novo.

Assustei do sonho, espantei os pensamentos e senti, mais uma vez, todos os calafrios na barriga - os mesmo que os teus passos descalços me causaram quando me fizeram duvidar de nós dois. Respirei, olhei para dentro e me dei conta que todas as incertezas ainda estavam aqui. Um lado desistindo de te fazer meu, o outro insistindo em esperar os próximos dias desse nosso tal amor.

Texto de Patrick Moraes

Nenhum comentário: