Você partiu e eu fiquei aqui. Em pedaços de saudade que vou costurando como uma colcha de lembranças, arrematada pelos detalhes dos pequenos momentos que foram nossos dias atrás. Com olhos de menino e coração de criança, me despedi naquela tarde de sol com a certeza de que ainda é possível afastar o meu medo de não me fazer só. Ainda que de leve, o batuque das ruas se fez presente aqui dentro, como um sinal de que tudo ainda pulsa, tudo ainda tem vida.
Inacreditavelmente, me dei conta que é possível se apaixonar em trocas de olhares, de afetos ou em uma súbita entrega de corpos em uma terça profana. Parece até desesperador, mas, quem disse que se apaixonar é ter certeza de alguma coisa, nunca se viu tendo que domar os impulsos de fugir no meio da madrugada só para mais um beijo de despedida. É como fechar a porta de casa e dois minutos depois desistir de dormir só para deixar uma mensagem dizendo que preferia ter feito da sua cama o aconchego de uma noite a dois. É brincar de felizes para sempre, mesmo sabendo que esse tal de “para sempre” é como contos de fadas, com uma magia que na manhã seguinte se desfaz com a realidade.
Entre um simples “olá” e um abraço apertado no encontro inesperado. Entre uma vontade descarada minha e uma duvidosa entrega sua. Nós, que parecíamos tão perdidos no meio daquela multidão, nos inventamos em sorrisos, beijos, suor, mãos e carinhos apaixonados. Era como descobrir, no meio de toda aquela festa de serpentinas, os pedaços de uma vontade que teimava em querer ficar por mais um dia, por mais uma semana, por quanto tempo fosse preciso para nos descobrirmos em meio a desejo, carinho e atenção.
Suspirei ao me pegar contando os confetes que jogamos na noite anterior só para deixar aquela avenida mais colorida. Suspirei porque não sabia quando ia te proteger da chuva ou dividir o espaço de um sofá estreito contigo outra vez. Suspirei porque não sabia até onde aquilo tudo ia dar. Mas foi só assim que eu me dei conta de que se apaixonar não é ter certeza do quanto aquilo vai durar ou se vai durar. É apenas sentir que, naqueles instantes juntos, duas almas se encontraram e sorriram de um jeito ironicamente especial.
Texto de Patrick Moraes
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