terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Após o fim


"I don't know about my love
I don't know about my lovin anymore."
James Blake

E você estava lá depois do fim. Depois que a tempestade arrebentou, só sobrou brisa fria e soturna, só ficaram os soluços desesperados de um coração sem cobertor. Era teu colo que aconchegava; os teus dedos que enxugavam cada gota que descia na mesma frequência em que o coração angustiantemente apertava. Você, que esperou por tanto tempo para ser meu, encontrou nas migalhas de uma relação acabada a primeira oportunidade para me conquistar. Você, que mesmo tentando segurar todas as minhas vontades em forma de balões para que nenhuma delas voasse, esqueceu que, por dentro, o que existia eram milhões de agulhas estourando cada uma.

Não, o colo após o fim de amor nunca será de amor. Aquela história de curar um com outro é tudo mentira inventada pra boi dormir. O chão ainda estava molhado demais com todos os meus antigos deslizes. Não precisava que você secasse, só precisava de diversão, nem que pra isso eu tivesse que cair umas vinte vezes aquela noite.

Se eu deitei contigo, foi por puro devaneio prazeroso carnal, sem qualquer indício de amor. Trocas: te dei uma noite e você satisfez seu desejo como uma criança faminta. Longe de mim ter te negado afeto, apenas te neguei algo que eu já não tinha: um coração inteiro. Perdido nos pedaços de histórias que remoíam minha cabeça, meu coração não seria capaz de estar presente e sequestrou meus pensamentos. Te tocar era como se eu recebesse uma ordem para fechar os olhos e fechar os olhos me fazia acreditar que o passado resolveu se deitar comigo pela última vez.

Era como encarar a segunda-feira de feriado, a ressaca do primeiro dia do ano com outra cerveja, os primeiros minutos depois que o despertador toca com mais dez minutos de sono. Era como se você fosse aquela sensação atenuante, que alivia, mas não cura. Meu medo era te fazer de refém. Não queria partir em você o que em mim já havia esmigalhado. Não queria te ver chorar por um puro prazer de menino entregue ao seu rancor amoroso antigo. Não sabia nem o que eu queria além de dois copos de vodca com gelo e uma loucura qualquer.

O segundo ato demoraria de começar e, definitivamente, você que veio após o fim não seria o recomeço. Para bons recomeços, o tempo. Para novas noites, um amanhecer. Para nós, apenas um alívio culpado de dois atrevidos perdidos em seus corações.

Texto de Patrick Moraes

Um comentário:

aline disse...

concordo com tudo, especialmente, com a parte 'o colo após o fim de amor nunca será de amor'.

sensível e lindo.
parabéns.