"This home is where my heart is
My heart is where we both live
I'm sorry for acting so silly"
Tiago Iorc
Era noite de domingo. Não me lembro se havia lua cheia, se o céu tinha estrelas, mas sei que fazia bastante frio quando você nasceu. Era pequeno, tímido, curioso e tinha uma inocência sem tamanho ainda dentro de si. Você adorava brincar, mesmo que suas feições fossem, na maior parte do tempo, de birra. Não era bravura, era só uma forma de intimidar, de não deixar que qualquer um tentasse chegar perto para te fazer sorrir.
Nos seus primeiros meses, foram incontáveis as suas birras, tão incontáveis quanto as nossas brincadeiras naquele jardim. Você sempre corria quando me via chegar, eu sempre contava as horas no trabalho para poder te encontrar. Ver o sorriso de poucos dias ainda era minha diversão preferida de quase todas as noites. Você aprendeu aos poucos a falar a minha língua e, de repente, estávamos alinhados em um papo sem precisar soletrar mais nenhum sentimento.
Seus olhos; eles eram tão dengosos quando estavam tristes. Ou quando, simplesmente, queriam me convencer dos seus mimos. Gostava de te colocar deitado em meu colo, te fazer cafuné e me perder entre uma palavra e alguns risos. Daquele mesmo jeito quando chegou o primeiro urso de pelúcia. Era a brincadeira de ter um filho, com nome, afeições e direitos garantidos por decretos sentimentais. A guarda era minha, o carinho era nosso.
Você começou a engatinhar e adorava brincar de conhecer cada novo canto da nossa casa. Alguns te despedaçaram, outros te fizeram cair exausto de tanta diversão. Alguns te roubaram a inocência intacta, outros te trouxeram os sorrisos mais doces e sinceros. Mesmo com tantos receios nos primeiros passos, você nunca teve medo. Segurou em minha mão e andou. Desconsertado, cambaleando, com vontade de ser gente grande logo.
Mas aí você cresceu ainda mais. Era hora de eu te deixar ir ao mundo, te levar para aprender novas palavras. Ainda tinha medo de te ver longe por muito tempo, medo de você não conseguir andar com as próprias pernas ou alguém te derrubar pela simples vontade de te ver chorar. Queria te proteger de tudo, dos falsos contos de fadas, dos verdadeiros e imperceptíveis monstros. Por mais que seus passos já tomassem forma nas areias de uma praia distante, eu ainda queria te ajudar a terminar o castelo de areia que a gente começou.
O tempo passou. Você cresceu rápido demais.
Hoje, você faz um ano. Sem bolo, sem vela, sem parabéns. Os doces? Ficam para o próximo aniversário. Os sonhos? Acabei de terminar uma bandeja deles e ainda estão quentes. Eu sei, não vai dar tempo você chegar para experimentar pelo menos um deles. Mas guardei seu presente aqui. Quando você chegar, os laços ainda estarão embrulhando o mesmo boneco de amor que eu encontrei naquele domingo quando você nasceu.
Texto de Patrick Moraes
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