Uns chamavam de Alice, outros de Li (isso, duas letras apenas), mas a maioria apenas a conhecia pelo sorriso simpático e a atenção que sempre transbordava com o olhar. Cabelos curtos, magrela e bem alta. Se não era a mais desejada do colégio, era a mais interessante em suas palavras bonitas e seus escritos borrados, por vezes, de lágrimas. Lembro bem daqueles abraços com gosto de algodão doce e os beijos de chocolate. Era feita de cores e jamais conseguiu decidir uma delas para pintar um autorretrato.
Entrou para o teatro logo cedo, mas resolveu que gostava mesmo era das palavras. Sabia escrever o amor de tantas formas que, por vezes, ficava deformando corações cor de rosa só para não perder o costume. Dia desses apostou com o mundo que nada mais daria certo em seus romances construídos em jardins de jasmins e brisas com cheiro de campo. Sabia que era um jogo de aposta arriscado, mas ainda assim o fez. Decidiu jogar fora a boneca que mais amou durante os poucos anos que tinha e ir em busca de uma grande fábrica de fofoletes. Tinha certeza que nas pequenas caixinhas iria conseguir completar os seus sorrisos solitários de todas as manhãs e ser amada.
Ainda a vejo caminhando com vestidos floridos e um batom tão claro que torna-se imperceptível ao rubro das bochechas tímidas. Vi que abandonou a fita que carregou por meses no cabelo e agora simplesmente amarra os poucos fios de uma forma propositalmente desleixada. Quanto a aposta, dizem que Li perdeu, apesar da grande insistência. A boneca velha ainda continua embaixo da escrivaninha onde ela escreve pequenos poemas todas as noites e a crença em um final de contos de fadas ainda pode ser vista em seus rascunhos embolados sobre a cama.
Texto de Patrick Moraes
Esse texto faz parte da série
escrita exclusivamente para Esquinas.
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