terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pequenices


Cruzei o mar, estrada além,
tô aqui pra ver se ainda bate, pulsa.
Roberta Sá

De repente deu vontade de menos, começar em baixa velocidade e a pé. De repente eu só queria um amor pequeno, um desejo pequeno, uma cidade pequena e nada do que fosse grande faria meus olhos brilharem. De repente você seria capaz de tornar tudo mais simples, quebrar barreiras, sumir com toda essa bolha transparente que construi camada a camada com dor. Não, não dói mais. Hoje é apenas proteção, hoje é apenas maturação de vida necessária, adulta, uma espécie de remédio anti romances fadados ao fracasso.

Foi de repente que mudei de planos, olhei pra mim e disse que eu queria pequenices. Sorriso bobo de manhã bem cedinho, cafuné dengoso com os olhos sorrindo, com os beijos brilhando, com o coração andando tão rápido que parecia tropeçar a qualquer momento. Pão quente com manteiga, cueca jogada no chão do banheiro, lençol embolado na cama e água quente no corpo. Boas companhias em um lugar aparentemente pequeno.

De repente, olhei pra dentro e vi um coração pequeno. Um pedacinho do que já foi tão grande um dia, tão bobo, tão afetivamente disposto a amar em troca de um simples beijo. E mesmo que amar não seja só troca, e mesmo que amar seja estar disposto a, e mesmo com tantas definições subjetivas, caóticas e dramáticas em torno do verbo, eu ainda fiquei olhando pra dentro e achando tudo pequeno, do jeito que eu desejei. De repente, ser pequeno era ter crescido e toda aquela história da pequenice virou confusão.

E foi de repente que ouvi o pequeno gritar, assustado com tamanha pequenice: "Apressa o passo, esquece tudo jogado naquele quarto e simplesmente vive, menino. Amar? Na hora certa seu coração corre, deixa de ser pequeno e explode a bolha. Nessa hora, o aperto vai te contar baixinho o quanto ser pequeno deixará de valer a pena".

Texto de Patrick Moraes

2 comentários:

Calleo Augusto disse...

Outro dia eu estava fazendo um bolo, delicia por sinal, resolvi fazer um recheio de brigadeiro. Quando estava terminando de raspar a panela, encostei a parte de trás do dedo no doce. Aquela coisa deliciosa grudada em mim, queimando, machucando. Deixei embaixo de uma torneira fria por cerca de cinco minutos até passar a dor. Em seguida nasceu uma bolha. A professa sempre diz: pacientes com queimaduras, nunca estourar a bolha; ela serve como proteção contra infecções. Deixei. Essa bolha foi ficando escura com o passar do tempo. Ficou uma ou duas semanas. Depois disso, ela começou a abaixar e quando ficou no nível da pele normal, criou uma crosta, como qualquer outro ferimento. Então retirei essa crosta com cuidado e lá embaixo estava uma pele cicatrizada e frágil.
Ou seja, mesmo o mais gostoso dos doces pode te machucar feio se não tomar cuidado. Mas, caso ele venha a te machucar e forme uma bolha não a estoure antes do tempo, pois mesmo esperando a bolha se dissipar por ela mesma, ainda assim a pele de baixo está frágil. É tudo questão de saber manipular e tomar cuidado, depois é só deliciar-se.
Agora, deixar de fazer brigadeiro com medo de se queimar é a maior idiotice do mundo; se privar dos prazeres da vida para se livrar de uma possível dor é ser egoísta contigo mesmo.

Denise Stephany disse...

Oi Patrick acompanho o seu blog a um tempinho.. vc se expressa muito bem e por muitas vezes tenho a impressao que suas palavras se encaixam perfeitamente nas minhas historias..bjos

http://universodesensacoes.blogspot.com/