Não compreendi muito bem as últimas palavras que você me disse assim que saiu da porta de minha casa. Pra falar a verdade, prestei tanta atenção em teus olhos marejados de um sentimento confuso pra mim, que se quer decifraria meia dúzia de palavras saindo da sua boca. Só sei que ainda te guardo em cada simples detalhe e, insuportavelmente, te menciono nas conversas de bar que tenho com cada nova oportunidade de um novo amor. Meu problema é justamente esse, tentar te achar em cada novo encontro, em cada descoberta. Não existe redescoberta de você, a não ser que seja contigo e isso é barco furado com destino certo: o naufrágio.
E me pego pensando o quanto Murphy insiste em roubar a reciprocidade da minha vida. O quanto meu olhar detalhado desnuda cada pessoa em busca de uma perfeição, onde até mesmo os defeitos devem ser perfeitos pra mim. Não acho que esteja errado em querer pular fora na primeira tentativa de suicídio que me provocarem, na primeira repulsa por uma atitude que simplesmente não se encaixe. Mas acho bem triste não conseguir me livrar da espera pelo cavalo branco. Não existe contos de fadas em histórias onde o mocinho também encarna o vilão. Definitivamente, papéis bem definidos não entram em meu roteiro e isso acaba apontando direções que me perco antes mesmo de chegar. O pote de ouro, é isso! Talvez esteja atrás dele, escondido entre um galho seco e uma folha recém caída do pé. O problema é a rota, a infinidade de tropeços e a minha incansável necessidade de virar a direita quando todos mandam seguir em frente.
E nesses atalhos, ou caminhos alternativos, ou buscas desesperadas por uma esconderijo secreto, que eu encontro divertidas razões para sorrir. Mesmo que temporárias, mesmo que doídas, mesmo que ordinariamente efêmeras. São nelas que consigo descobrir pedacinhos invisíveis de mim, de mudanças contínuas, de curiosidade por outros espaços preenchidos aqui dentro. É um você que reflete os pequenos deslizes e as grandes bagunças, um você que tem tanto de mim, mas com marcas que um dia eu tive e cansei de expô-las. O pior é pensar que consegui abandonar a minha essência e perceber que isso é querer negar uma verdade através de um argumento fundando em mudança. Mudar é adequação. Mais cedo ou mais tarde, você se dá conta que adequou o que tinha aos espaços que te deram agora de uma forma diferente.
E com tantos caminhos trocados, papéis invertidos, mudanças que acontecem sutilmente e um incômodo bobo que marcou o passado, é hora de entender o quanto a zona de conforto te cabe. Sem aperto, sem estar excessivamente folgada, mas na medida certa para entender que as dimensões da sua vida podem ser ocupadas sem se preocupar com os objetos que você carrega do lado.
Texto de Patrick Moraes
2 comentários:
Menino, vc arrazaa viu?! Adorei!
Lindo, sem mais.
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