Engraçado como um tijolo fora do lugar é capaz de derrubar um prédio inteiro. Já pensaram em quanta coisa poderia ter sido diferente se uma mera peça do quebra cabeça estivesse torta ou se encaixasse em outro lugar? O despertador que não tocou, a chave do carro que você esqueceu na mesa do escritório e voltou pra buscar, o dia que adiou a academia por mero desleixo, a festa que deixou de ir porque simplesmente preferiu chorar por um relacionamento fracassado.
Me dei conta hoje que você é uma dessas peças de quebra cabeça que veio torta. Bem ou mal, tô desmontando um pedaço de mim aos poucos só pra reconstruir um caminho mais rápido de chegar até você. É aquela história do sinal fechado, da luz vermelha, do momento em que aquele velho boné conseguiu me colocar em estado de espera. Incessante e aterrorizante espera! Sou capaz de dizer que você é aquela placa de contramão no caminho que eu cruzava todos os dias. O mero detalhe que consegui enxergar de novo, que conseguiu modificar de novo.
E hoje eu seria capaz de mudar os horários de cada despertador que aparecessem só pra fazer a cidade amanhecer mais rápido. Pegar cada segundo de suspiro só pra dá uma fugida e te olhar, ao menos de longe, pra ver que tá tudo bem. Hoje eu queria ficar instável na estabilidade dos teus braços, na incerteza dos próximos dias, no pulsar agitado do teu corpo e no simples sussurar em meus ouvidos. Eu queria mesmo uma via fora da principal que me levasse no alto daquela montanha e calassem todos os segredos em gestos. Trocar olhares por beijos, silêncio por gemidos, sonhos por toques. Eu sei que o prédio construído até poucos dias atrás está perto de desabar, mas certos tijolos merecem a chance de ser trocados assim que o sinal vermelho acende.
Texto de Patrick Moraes
3 comentários:
Inspirado e inspirador. Um pouco melancólico também =)
Texto melancólico mesmo, mas bem real. Às vezes o sinal fechado mostra que a vida tem q dar uma parada, uma esfriada. Tempo suficiente para refletirmos se certos tijolos devem mesmo estar nos lugares considerados 'certos'. Reflita!
Adoro a forma como vc trata dos "encaixes", das construções no primeiro parágrafo. Depois, no segundo paragrafo, vem os caminhos, o trânsito.
E no ultimo paragrafo eles se abraçam, como se o estático do construir, paralisasse a efemeridade dos caminhos, do seguir. A sensação de equilíbrio que nos faz ter coragem pra seguir em frente, sem certezas.
Brilhante!
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