"Há um menino! Há um moleque! Morando sempre em meu coração." (14 Bis)
Vi aquele garoto de pés descalços brincando na calçada. Pipa no céu, coração na mão. Mordia os lábios num sinal de apreensão e nem sequer olhava para o lado. O mundo se passava no carro ali em frente, aquele vermelho que buzina sempre na esquina da confeitaria.
Voar não despertava mais seus instintos. Ele corria, se escondia, brincava de fantasiar o herói do cinema. Ter poder, ser o faroeste americano. Talvez sem a mocinha, talvez sem amores. Sabe ser dos vários um só, mesmo sem usar uma máscara colorida ou de metal.
Balbuciava as palavras novas com tamanha maestria que parecia adulto antes do tempo. Puxou minha blusa e pediu ao "tio" um minuto para uma partida de pião. O sorriso ingênuo, as bochechas rosadas e o desejo de companhia reluziram. Peguei em sua mão e fui apresentado ao mundo mágico da diversão.
Parecia ganhar uma nova infância, parecia saber o significado real de felicidade. A casa velha de um passado, os brinquedos inventados, as bugingangas do baú cor de abóbora. Tudo parecia simplesmente ganhar vida. As memórias foram resgatadas impetuosamente. Olhei o menino e vi um eu de tempos.
Foi quando o bonde passou e o sonho se desfez. A criança partiu pela janela, alçou vôo. Mas o espírito natural fincou em mim. O gosto em brincar, em velejar suavemente o barco até aquele horizonte mais distante. Entendi que o sol pode não aparecer sempre, mas vale a pena sorrir quando os pingos da chuva caírem.
Texto de Patrick Moraes
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