Para ler ouvindo "Who You Love"
Eram teus dedos marcados em minha pele e teus beijos escondidos em meu pescoço. Era tua mania de, por diversão, me tirar do sério e teu semblante de que nada mais importaria se eu estivesse deitado em teu peito aquela noite. Era até teu silêncio ao ouvir minhas histórias longas e a tua paciência em me ver experimentar pela vigésima vez a mesma camisa antes de sairmos para jantar. Era tudo que poderíamos ter sido se a gente tivesse ficado.
Mas entre as distâncias e as diferenças, saímos da rota e seguimos em vagões diferentes. Distantes, sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, perceberíamos como nossos destinos deveriam ter sido escritos na mesma página daquele livro. Próximos, a gente se perdia na inesgotável necessidade de ter razão e fugíamos. Nossos corações se transformaram em casulos tão pequenos que mal cabiam as certezas. Preferimos ignorar a saudade e deixar de fora o carinho que criamos sem nos darmos conta.
Quando nos encontramos ali, inesperadamente, na porta daquela festa, a gente se perdeu mais uma vez. Ou melhor, a gente não soube como se encontrar enquanto nossos olhos diziam o que nenhuma palavra seria capaz de explicar. Eu chegando, você saindo. Eu querendo falar, você sorrindo. Foi o medo do adeus que simplesmente nos conduziu para, novamente, seguir rotas opostas. Mas eu continuei olhando para trás e tendo a certeza de que seus olhos estariam me esperando. Eu continuei atentamente te vendo partir, em passos curtos e incertos. Você olhou antes de sumir de vez.
Mas a gente se reconheceu de novo. No bar perto da minha casa, eu com meus amigos, você chegando para mais um encontro que não te entregaria o que você queria. Você sabia que seu destino estava na mesa ao lado e nem ousava disfarçar. Inevitavelmente, eu torcia para que aquilo tudo não passasse de uma tentativa frustrada de superar o que fomos. Ou talvez o que poderíamos ter sido. Mas a teimosia nos tirou um do outro por incansáveis vezes.
Hoje, me peguei olhando a única foto que tiramos naquela manhã em que acordei com você tocando alguma música do John Mayer no violão. Me peguei pensando em como eu queria ter te apresentado a minha avó, mesmo que ela fosse te contar mil histórias da minha infância. Em como seria ter te convidado para um almoço de família no domingo e perdido a noção da hora entre a sobremesa e seu sorriso. Sorri imaginando como seria ter um mural cheio de você no meu quarto, ainda que você odiasse a minha mania de registrar tudo naquela máquina de congelar momentos.
Desejaria que as tardes mais vazias pudessem ser preenchidas com sua presença e que as piadas mais bobas existissem e fizessem sentido apenas para nós dois. Que seus braços fossem o melhor lugar para esquecer os cansaços da vida e que seu cafuné me lembrasse o quanto a delicadeza entre nós dois era gostosa. Eu queria te contar ainda muito mais coisas do que eu andei pensando sobre nós dois. Mas a gente se perdeu tantas vezes por aí que eu ando questionando como reunir todos os pedaços do que poderíamos ter sido se a gente tivesse ficado.
Texto de Patrick Moraes
Foto de Matteus Palmeira
Um comentário:
Texto lindíssimo. Acho linda a intimidade de duas pessoas transparecendo bem sutilmente pelas linhas. Parabéns!
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