domingo, 6 de março de 2016

As histórias que ele contava por aí


Para ler ouvindo "Lost Stars"

Ele nunca foi bom com histórias reais. Sempre tropeçou nos primeiros meses, nas primeiras falhas, nos primeiros desencontros que chegam depois dos primeiros beijos e antes do “felizes para sempre”. Ele sempre foi bom mesmo nas histórias contadas em filmes e romances de sessão da tarde. E não é por falta de sentimento. Na verdade, ele sempre escorregou nos excessos. Sentia tanto que não era capaz de caber em si. 

É que ele guarda no peito uma espécie de bomba relógio e qualquer pequeno detalhe é capaz de causar uma explosão sem tamanho. Ele até tentou ser daqueles que se importa menos do que deve, que vive por si e o que vier é lucro, que não sente a diferença entre um “eu te amo” e o silêncio. Mas ele é feito de poesia, e o silêncio é como a arma letal capaz de anular qualquer confiança de quem sente demais.

Mesmo com medo, ele nunca foi de desistir daquele sonho de menino. A felicidade era como o pote de ouro em dias de chuva com sol, ainda que valesse muito mais a pena observar a caminhada em direção ao fim. Ele sabia que não seria tão fácil encontrar o final feliz, mas insistia. Insistia, mesmo com o descompasso dentro do peito, porque sabia que a indiferença não lhe cabia. Insistia buscando em cada pingo de água um motivo para renovar sua alma, para deixar levar aquilo que não fazia parte do que sonhava em ser.

Mesmo crescido, ele ainda tinha medo do escuro. Suas inseguranças não reagiam bem com a ausência do que pode ser visto. Ainda que os outros sentidos fossem tão preciosos pra ele, o que era exposto tornava as reações mais reais e menos imaginárias. Ele cresceu com receio dos fantasmas do sentir. Se fosse noite, ele procurava se aninhar em algum canto de luz até amanhecer, até que todos os monstros que se escondiam dentro de si pudessem voltar a dormir.

Sempre acreditou em intuição e teimava em ser apenas aquilo que lhe fazia bem. Encher o peito de afeto era quase um mantra, que repetia todas as vezes que o mundo parecesse cinza demais. Mesmo depois de todos os desafetos da vida, ele sabia que cada cicatriz era mais uma prova de quanto ele era forte. Entre erros e acertos, bagunças e aconchegos, gargalhadas e lágrimas, ele sempre encontrava as peças certas para começar e terminar qualquer história.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto

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