Para ler ouvindo "Bossa"
Por onde anda teu preconceito, menina? Tem se escondido nos cachos negros que balançam nas esquinas de uma liberdade ou tem dormido nos afetos que andam gritando por aí? Me conta, menina, teu preconceito está por baixo das minissaias e dos pudores que carregam os olhos alheios ou vivem nos beijos de dois meninos em meio à praça central? Será que teu preconceito andou perdido em balanças e etiquetas luxuosas ou se refugiou nos sonhos daquele moleque da favela que só quer ter um nome e o direito de ser feliz?
Por onde andam tuas desculpas? Adormeceram no que te convém para despertarem com os tais valores convencionais que te formaram? Ou caminham juntas ao discurso de viver uma relação de amor e poréns? Será que a aceitação que você anda gritando por aí não tem andado negando os direitos de quem você diz amar? Será que a tua sabedoria não se perdeu em nome de uma fé que não atende nem as tuas próprias dúvidas?
Não sei bem, menina, mas as boas intenções que você diz esconder no peito não andam se mostrando em tuas falas ou teus gestos. Desculpa te contar, mas o que a gente guarda não afaga o peito de ninguém. As intenções não defendem quem sofre, muito menos confortam quem se machuca todos os dias. As tuas omissões, menina, não abraçam quem engole as dores a cada nascer do sol só pela vontade de ser feliz sendo quem é.
Eu sei que você também deve chorar todos os dias por alguma ferida que abriram em teu peito e disseram que a escolha era absolutamente sua. A vida tem se tornado um verdadeiro caos em busca de uma verdade que nunca existiu. Parece que o amor ao próximo tem se confundido com o ódio seletivo, com uma crença perversa, com uma moralidade que desconhece as diferenças humanas. Às vezes, olhar nos olhos do preconceito dói, assusta, faz a gente sair correndo e se esconder até que tudo passe. Mas não passa. O ser humano não aprendeu a fazer da vida um lugar mais terno e sorridente. O ser humano tem matado o respeito com a desculpa do pecado.
Desculpa te dizer isso, menina, mas é que mora em tuas mãos o remédio contra esse mal que machuca todos os dias alguém a tua volta. Não faz com que a dor do outro seja apenas um exagero de quem se diz vítima do preconceito. Lembra que, todas as noites, alguma ferida guardada em você vai latejar aquilo que mais ninguém consegue perceber. Se apronta e seja corajosa. Não tenha medo de parecer desafiar as normalidades que andam te dizendo ser de boa-fé. No fundo, quem luta pelo direito de cada um ser quem é luta pelo amor. E qual bem melhor do que aquele vindo de quem ama?
Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto
Foto de Geovane Peixoto
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