segunda-feira, 17 de junho de 2013

Adormeceu



"Nunca me esqueça.
Eu não te esqueço jamais."
Geraldo Azevedo

Adormeci. Depois de ter o peito apertado pelas lembranças, eu descobri o aconchego da cama. Depois de sentir o sal de cada lágrima que teimava em escorrer em um gesto desesperado, eu encontrei naquele seu presente o afeto que faltava. Depois de sentir o coração ser torturado pela tua ausência, eu fechei os olhos como uma forma de misturar a minha teimosia desanimada com a aceitação impaciente.

De lá pra cá, não acordei mais. Adormeci os sentidos, agucei os sonhos e fingi que as dores passariam, que os sorrisos bastariam, que você não viria. Sucumbi todo e qualquer desejo de você quando, racionalmente, você destruiu todo e qualquer pedaço de esperança de te ter novamente. Desisti de manter a chama acesa. Desisti de segurar a vela com a mão. Deixei ir apagando, devagarzinho, lentamente... silenciosamente.

Não bastava. A chama nunca se apagaria. Era fonte de amor, daqueles que sangra e exala o perfume mais doce e o sabor mais ardente do inesquecível. Era a borra que queimava a pele ainda que a chama me cegasse os olhos. Era o simples suspiro bobo de um amanhecer, o abrir de uma janela e o claro raiar do sol.

A chama, outra vez, se fez intensa. A alma, outra vez, se aprontou. Sempre soube que você voltaria. Ainda que não fosse pra mim, você voltaria. Ainda que sem me tocar, ainda que sem trazer seu coração pulsando e seu corpo ardendo, ainda que sem entrega, você estaria aqui, em minha frente ou escondido em qualquer canto desse lugar que foi nosso.

Quando chegar, não me proponha carinhos. Quando aparecer, desista de todos os sentimentos agradáveis e amigáveis. Melhor ainda, aprenda de uma vez por todas que a chama só existe se for alimentada com o avassalador sentimento de uma paixão eterna. 

Se aceitar voltar, deixe de lado todo o orgulho que te impede e todas as palavras mal ditas. Se for preciso, recomece. Se houveram tentativas frustradas de esquecimentos, repense. E quando as marcas de arranhões provocados pelo próprio desejo de cuidar ainda incomodarem, acredite em todas as palavras que confessamos naquela noite em que você se foi.

- Promete que nunca vai me esquecer?
- Nem se eu quisesse. Você será pra sempre!

Texto de Patrick Moraes

Esse texto é um projeto especial do Esquinas com músicas de O Grande Encontro
e foi inspirado na música "Dona da Minha Cabeça"

Um comentário:

Carlos Vieira disse...

Belíssimos seus textos, parabéns! Adorei todos os que li!

Abraço,
Carlos