Para ler ouvindo "Nosso Nó(s)"
Hoje, eu levantei e te deixei ali, do outro lado da cama, como de costume, como todos os dias faço desde que você chegou. Admirei teu sono, mas senti o peito apertar de leve. Era como um sussurro amargo de que estamos nos perdendo.
Caminhar junto é precisar parar vez em quando para acertar o passo. Na ânsia de percorrer a estrada, não nos damos conta exatamente da hora na qual nosso ritmo perdeu o compasso. Sentei um pouco, respirei fundo e tentei te encontrar nessa longa viagem que o acaso nos trouxe.
Viver a dois não é tarefa simples, por mais que o amor seja. Viver a dois requer mais que entrega, mais que beijos, mais que sexo. É como se descobrir em muitas camadas que muitas vezes você sequer percebeu que existiam. Olhar para dentro do outro dói. Olhar para dentro de si dói ainda mais.
Viver a dois é precisar se questionar antes mesmo de questionar o outro. Porque as respostas, muitas vezes, estão ali, escritas nas entrelinhas, ditas nos gestos, sentidas pelo olhar ou pelo vazio dele. E quando a gente não consegue ler o outro além das palavras ditas, a gente entende que o caminhar a dois precisa ser ajustado, mesmo que não saibamos a melhor forma.
Hoje, depois do sussurro no peito ao levantar e te ver dormir, eu fiz o café e sentei aqui para escrever. Os descompassos, muitas vezes, se alinham nas tentativas de torná-los letras, frases, textos que, provavelmente, se perderão por aí. E que sejam só os textos a se perderem.
Eu continuo aqui, tentando respirar em meio a uma pausa na estrada para ver (re)aproximar seus passos dos meus. Ainda que solitário, ainda que melancólico, ainda que impaciente, ainda que sem todas as respostas, eu continuo no caminho por acreditar que viver a dois não é simples, mas tem sido uma experiência extraordinária.