sexta-feira, 19 de novembro de 2010

No fim, sussurre


Somos feitos de intencionalidade, de desejos, de vontade de provar que o ângulo certo é formado no encontro dos nossos catetos. Somos um amontoado de mentiras organizadas minunciosamente para forjar uma verdade tão real que finca. Finja, seja apenas mais um artista de praça jogando confetes e malabares e nunca esqueça de sorrir. Ou simplesmente pegue o papel de suposto herói e faça do seu balaio de verdades uma mentira reformulada, criada, conveniente.

Destrua pontes, desfaça ligações, berre! Mas grite com força. Só assim você conseguirá fazer com que os sussurros sinceros sejam transformados em silêncio. O calar envergonhado, o olhar de canto de rosto por sentir apenas desprezo com tanta cena, com tanto palco. E aqui, há quem prefira ficar na coxia, rindo, aprendendo a ser artista com o pouco que lhe sobra nos bastidores, com o muito que lhe é dado nas fichas técnicas e nos roteiros escritos com intuição de quem quer um dia brilhar.

Talvez os fatos espetacularizados aqui não precisem mais tarde de gritos, de inexperiência, de puro sangue melodramático. Basta apenas um sorriso atrevido de quem sempre esteve no atrás-cortina, esperando a hora de pisar firme e dizer que chegou a minha vez!

Na Califórnia é diferente, irmão
É muito mais do que um sonho
.
(Lulu Santos)

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Paralelas


É tão melhor viver em paz,
Ninguém me faz sentir assim.
(Vanessa da Mata)

Levantei da cama só para escrever o quanto eu senti falta daqueles depoimentos que sempre lia em minha página e guardava só pra mim. Letras roxas, em negrito, com uma dose de paixão tão grande que nunca senti de novo igual. É bom ser egoísta, é bom preservar nossos desejos e saber que quem importa realmente dividia. Eu sei que não existe mais nós, não existe mais o boneco do olho azul, muito menos as nossas intimidades. Tudo ficou diluído nos quase dois anos, nos destinos que seguiram em paralelas talvez nem tão simétricas. E foram pontos humanos para descontruir uma frase que poderia ser longa, mas não adiantava tanta condicionante, tanta causalidade. E antes que você sorria e pense o quanto eu fui idiota e, mais uma vez, estou sendo, eu lembro da ponte. É, a tua recém intimidade misturada com o mesmo riso pelos meus medos. E não seria agora outro medo? O medo de me fazer exposto demais, de te fazer um esperto mago da verdade. O aparente bem estar, a simpática aproximação, o não-saber-prevendo, tudo que acontece não me faz pensar no futuro como algo inovador. Prolongar? Prefiro acreditar que apenas despertaríamos uma profusão de sentimentos apagados, adormecidos. Mas aí eu deito de novo e meu divisor de sonhos apenas me questiona se vale a pena deixar que roubem todas as lembranças que um dia construimos nas paredes brancas do meu apartamento. E eu apenas respondo ao menino dos olhos azuis: talvez não.

No fim, são coisas boas.
No fundo, saudade.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Arlequim


Vai te levar leve a vagar
Prum lar de fina-flor
(Los Hermanos)

Chega em determinado lugar da ponte que você precisa decidir o próximo passo ou a simples decisão de se jogar no abismo de incertezas. Voltar não vale mais a pena, já que praticamente metade e meia do caminho foi percorrido. Um pulo para o final? Talvez não, talvez a madeira não sustente com tanta firmeza e seria arriscado se ferir nas lascas esmiuçadas. Direita ou esquerda? Será que lá embaixo as cores conseguem se harmonizar tão bem quanto o leve balançar da ponte? Céu azul, azul do rio. Mas quem disse que depois do pulo ele ia se molhar?

Equilíbrio: estático, tático, físico, "sentimentaLógico". Na corda bamba do equilibrista, esperto é quem consegue dar cambalhota e segurar o guarda-chuva com apenas uma mão. Esperto é quem faz graça para a platéia e ainda consegue entregar uma rosa imaginária a donzela mais bonita que está sentada na primeira fila. O palhaço, o mestre dos sorrisos que um dia não soube o que fazer com a maquiagem avermelhada que toda noite usava para pintar seus lábios. Talvez mudaria de nome, usaria uma roupa mais alinhada, uma postura mais robusta, mas tão colorido quanto estava antes. Não, ele não seria o bobo-da-corte, nem o bêbado equilibrista, muito menos o mestre das gargalhadas embaixo da grande lona. Bastava a fantasia de ser o arlequim, até o dia que perder seu coração para outra pessoa e entregar o título que tanto desejou.

Texto de Patrick Moraes