terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O tal do tempo certo



Você tem pressa! Pressa de que todas as realizações que, noite após noite, você idealiza com a cabeça no travesseiro e os olhos fechados aconteçam. Pressa de que o emprego dos seus sonhos apareça ou até que o par de alianças brilhe em cima daquela mesa de jantar. Você tem pressa que cada momento que você espera até os 30 se torne real de uma forma minimamente idealizada nos fins de ano ou depois que você apaga as velas de cada bolo de aniversário.

O problema é que a vida não tem pressa, muito menos se importa com esse tal de ideal que você cultiva desde que deu os primeiros passos. O tempo certo das coisas, de repente, não vem com a idade que você imagina. Mas você se cobra mesmo assim, sofre mesmo assim, alimenta uma angústia mesmo assim e ignora todos os poréns que possam desafiar a sua racionalidade.

E aí o tempo não tem piedade. Ele não espera você se recompor das frustrações, nem te dá a possibilidade de voltar para refazer suas escolhas. Decidiu, tá decidido. Conviva com todas as possibilidades de erro que possam vir e aprenda a ser feliz com elas. Se quiser mudar, não espere a próxima segunda ou o próximo ano. Datas só foram feitas para mensurar o tempo que você perdeu pensando no que poderia ter dado certo, caso você tivesse feito.

Mas você continua se cobrando por não ter escolhido as possíveis chances de ser feliz. E se você tivesse adiado aquela viagem e ficado mais três dias com alguém que poderia ter feito você mudar de planos pelo resto da sua vida? E se você tivesse ouvido a razão e deixado de lado essa mania boba de fazer o que seu coração manda? E se você se permitisse amar mais, mesmo com todas as cicatrizes que ainda carregam tantas lembranças? Nenhuma das suas dúvidas ganharia certezas se você tivesse escolhido o caminho contrário. O outro lado das suas escolhas sempre será a dúvida e, em algum momento da vida, você vai ser obrigado a seguir.

Desista dessa tal de certeza e vá se aventurar por aí. Mar calmo não faz bom marinheiro, assim como vida branda não desperta intensos sorrisos. Esquece essa história de apressar o passo e deixa que o tempo se encarregue de fazer dos acasos os seus melhores desejos. Uma vez me contaram que as maiores descobertas de felicidade são fruto das dúvidas mais cruéis. É como se o tempo afrouxasse os nós e mandasse você ser feliz. No fim, só consegue sorrir com a alma, quem já teve o peito sufocado.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O tal do acaso


Para ler ouvindo "Meu Plano"

Sempre acreditei que tudo - absolutamente tudo - era uma questão de escolha. Escolher uma roupa e não saber exatamente se, no fim do dia, o frio vai te fazer desejar um abraço quente ou o calor te fará dividir uma cerveja no bar mais próximo. Escolher sair de uma relação em que os risos são mais raros que as brigas ou acreditar que, na manhã seguinte, ainda existirão flores para serem colhidas em uma possível segunda chance.

Entre todos os caminhos propostos e algumas vias alternativas, dia desses, acabei me deparando com o acaso. Parecia vestido de escolha, mas ele acabou me deixando poucas saídas. Sem o romantismo do amor à primeira vista, muito menos a balela de que amor a gente constrói, o acaso me trouxe você e ponto. Sem os clichês de filmes, mas com a dura realidade de que o nosso tempo estaria sendo contado por uma espécie de bomba relógio. A explosão da despedida não causaria danos físicos, mas deixaria um rastro de saudade que a gente jamais conseguiria calcular se não tivesse aceitado viver. E vivemos. Como dois apaixonados pelo acaso, fomos cúmplices de pequenos prazeres sem culpa.

Você, impiedoso, não me deu a chance de seguir olhando para frente. Eu, irresponsável, te entreguei algumas pistas do que seríamos se não houvesse essa tal da distância. O acaso, brincalhão, riu de nós dois e nos fez jurar uma espera cruel. Juramos e seguimos, com uma pequena vontade de, outra vez, entregarmos cada pedacinho de paixão entre beijos, sussuros e um pouco de frio no meio daquele verão.

Pensando bem, acho que até o acaso é capaz de te colocar contra a parede exigindo que você escolha entre correr riscos ou viver na solidão. Do alto da gangorra, eu escolhi me apaixonar quando o acaso me apresentou você. Mas o problema de se apaixonar não é o risco de não dar certo, é a possibilidade de sentir saudade daquilo que desperta a paixão.

Texto de Patrick Moraes



Uma foto publicada por A Gangorra (@agangorra) em