segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Contramão

Cause my best intentions keep making a mess of things.
Glee


E agora eu sento no cantinho da sala com um pacote de bolacha de chocolate e simplesmente tento ler meu coração. Já não sei se ele está em pedaços fragmentados e perdi o ânimo de ajustá-lo no tique-taque ideal ou se simplesmente perdi uma peça dele por essas avenidas largas que passo todos os dias. Eu queria conseguir escrever as minúncias que sinto cada noite, queria decifrar o que vejo escorrer pelos dedos. Tanto carinho que simplesmente eu poderia ter agarrado e feito um doce chamado amor. Mas será mesmo que amor a gente faz?

Fico lembrando da quantidade de 'não' que a gente derruba na vida e poderia ter permitido ser 'sim'. Talvez a gente deva aceitar primeiro e amar depois. A via por onde o amor chega é a mesma por onde caminha a paciência, mas é contrária ao desejo puro. O que seduz apenas os olhos passa na contramão e a gente só consegue acompanhar se olhar pelo retrovisor. E aí já não sei se vale a pena seguir apenas um reflexo, um olhar que se dispersa a cada espaço caminhado. E aí eu repenso todo um conceito de amor que vi nos contos de fada, que sonho a cada sessão de comédia romântica com baldes de pipoca. E aí eu já não sei se quero um acaso entregando um presente de laço grande na caixa enorme e colorida juntamente com um cartão escrito "I love you, I need you". Não, definitivamente eu preciso de construção, de amor em pedaços tão pequenos quanto os caquinhos que estou guardando debaixo da cama de casal pra mais tarde sentar e colar. E se você vier pintando em tons de perfeição, eu sei o quanto vai ser difícil o meu tique-taque acompanhar teu ritmo e, mais ainda, sei o quanto vai doer te dizer que antes de mais nada eu quero paciência no lugar de perfeição. Se for assim, valerá a pena terminar a caixinha de doces, se não, a gente refaz os conceitos, mas jamais muda de via na estrada.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tortos olhares


Então você pode me encarar, eu não me importo
Você é aquele que não vai a lugar algum.
(Jessie J)


Foi torto aqueles olhos, todos os olhares mal direcionados ou simplesmente perdidos no meio da multidão que nos rodeava. Foi torto todo o jeito como não dedicamos se quer uma palavra ao outro naquele instante em que apenas os ruídos de uma batida contagiava. Foi torto o jeito como eu impensavelmente quis te ter depois disso tudo pelo simples fato de te ver como um desafio.

Já não sei até que ponto se deve levar a inclinação desnaturada que alimentei pelo simples desejo em ter. E, se bem sei, entre os melhores e piores sintomas de um taurino no meio de um mar de maus olhados é a admiração terrível pelo ter. Não te quero tanto quanto me desafiei, você é simplesmente o que não tive mais cedo e preciso brincar um pouquinho agora que te levaram pra casa. Já não sei até onde você perdeu a graça em brincar ou onde eu simplesmente desisti de ultrapassar qualquer limite para ganhar esse joguinho idiota que eu criei peça a peça.

E se tudo realmente perdeu a graça, o último riso fica aqui ou quem sabe mais a frente, quando nos olharmos em meio a uma multidão de maus olhados e nos enxergamos mais uma vez como dois apáticos bonecos de plástico que foram reduzidos a puro desejo no olhar.

Texto de Patrick Moraes