segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cativa


Para ler ouvindo "Somewhere Only We Know"

Me espera, menino. Em cada noite em que olharmos as estrelas de janelas diferentes ou em cada raio de sol que nos acordar distantes um do outro. Me espera com a paciência de quem espera uma rosa crescer e, ainda assim, vê motivo para regá-la todos os dias. É que a paciência é um dos dons de quem sonha com jardins floridos.

Cultiva meu bem querer como a coisa mais preciosa que você poderia ter encontrado. Não apenas por ser meu, mas por ser sincero e feito pra ti. Desde pequeno, aprendi a ter esperança naquilo que só pode ser sentido com o coração. É como se a gente fosse capaz de cultivar carinho em lembranças e sorrisos em recordações. É como se a gente aprendesse a guardar o amor dentro de si para que ele se faça presente até mesmo nas ausências impostas pelo destino.

Não desiste de nós e nem me faz esquecer todos os segredos que confessamos debaixo da coberta ou de frente para o mar. Não importa onde você esteja, não desiste de voltar para ver meu sorriso florescer a cada vez que te ver chegar. Cuida dos espinhos e me deixa cuidar para que eles não te machuquem. Preciso confessar que provavelmente eu precisarei segurar tua mão quando sentir que o frio aqui dentro se tornou assustador. Só aperta forte e me coloca perto de ti. Nenhum refúgio será mais seguro do que o teu abraço.

Sabe, menino, acho que nossos destinos não se cruzaram por acaso. Assim como não é por acaso que eu me despeço sempre de você com o coração apertado e os olhos de criança esperançosa. Nunca te disse "adeus" porque eu sei que estamos destinados ao "até breve". Mesmo que eu não te veja, eu sou capaz de te sentir. Mesmo que eu não te toque, eu sou capaz de lembrar. E mesmo que seu perfume se perca no vento da distância, eu serei capaz de perceber o quanto existe de você em mim.

Talvez a gente sufoque o peito de tanto apertá-lo contra o travesseiro tentando enganar a ausência. Talvez a gente chore de saudade até cair no sono, até se dar conta que basta fechar os olhos e seremos capazes de sentir o carinho sútil que só amor é capaz de entender. Dizem por aí que chorar é o risco que se paga por ter se deixado cativar. Acho que teus olhos cativaram os meus como brisa: sorrateiro e suave. E quer saber? Tem sido doce compartilhar os segredos dos meus olhos com os teus.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Não deu para esperar


Para ler ouvindo "Açúcar ou Adoçante?"

É, cara, não deu para te esperar. Não deu para esperar você decidir que a gente valia a pena e voltar. Enquanto você insistia em uma relação sem futuro por aí, eu resolvi ir em busca da minha felicidade. É que eu cansei de abrir mão do meu destino por acreditar que você viria fazer parte dele. Cansei dessa história de vai e vem e de todas as noites em que deitei ao lado das suas incertezas. 

Não deu para esperar sua indecisão virar escolha, nem a ausência de possibilidades te mostrar que eu estava aqui. Segunda opção não combina com felizes para sempre, e talvez seu erro foi acreditar que a minha espera fosse sua única certeza. A gente cansa das faltas e, uma hora, a vida acaba jogando em nossa cara o prazer de se sentir completo.

Não deu para ver mais o pôr-do-sol imaginando quando seu ombro estaria ali do lado para olharmos na mesma direção. Anoiteceu e você simplesmente não veio. Anoiteceu e só tinha aquele céu de estrelas brilhando para acompanhar os meus sonhos. Acho que foi a lua quem me fez acreditar que a luz sempre existirá depois da escuridão, mesmo que as noites de insônia tentem me negar isso.

Desculpa, cara, mas não deu para retribuir as últimas mensagens de carinho. É que as cicatrizes me ensinaram a não acreditar naquilo que fere, e o nosso caso já me fez escrever todas as despedidas justas sobre a gente. Não tem mais segunda chance, nem segunda intenção, muito menos segundas amargas depois de domingos vazios. Não tem mais sofá em frente à porta, cama arrumada e o café sempre quente a sua espera. Não tem mais nossa música no radinho da sala, nosso poema preferido no livro de cabeceira, nosso retrato escondido na última página do meu caderno de escritos. Não tem mais nós.

Não deu para esperar você consertar todos as linhas mal feitas do caminho que o tempo foi desenhando para nós dois. Simplesmente não deu para te esperar, e eu resolvi abrir mão do que nunca existiu. Acho que a gente se perdeu na estrada e acabou ficando tarde para voltar em busca da direção certa. Acabou o tempo, acabou o vento. Sua ausência foi capaz de tornar brisa aquilo que um dia foi vendaval.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto