terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sem meus

Ele cantou tão alto, cantou tão claramente
Que fiquei com medo de todos os vizinhos ouvirem
(Florence + The Machine)

Nenhum são meus. Mas sinto tanto em perdê-los, parece uma parte de mim que se vai, acho que um centímetro do ego que inflei com o maior cuidado. São os elogios, os desejos contidos em cada conversa ou simplesmente uma mensagem de texto, são os suspiros secretos e doloridos que, involuntariamente, acabo alimentando. Por mais que pareça pura maldade, é simplesmente um egoismo, uma necessidade de ter tantos que possam preencher o vazio que ocupa todo o espaço na maior parte do tempo. Não, aqui não é oco, muito menos incapaz de ser preenchido. Mas tem resquícios de um passado manchado a sangue e suor, e tem uma porção de vácuo por vezes indeterminada, que simplesmente deixa correr solto, rápido, fulgás.

No mais, eu sei que nunca foram meus. Podem nem ser, ou se forem um dia estarão fadados ao infortúnio de um coração audacioso, mimado e tão treinado que só é capaz de perder a batalha quando o adversário vem armado de besteiras e sorrisos. Mas não basta isso, a guerra não é simples e prefiro acreditar que cultivo um jardim de flores de plástico, com adubo de palavras que servem de ilusões e um nascer de árvores que já não dão frutos, apenas ficam verde na primavera que se aproxima e somem depois. Prefiro simplesmente não contar os pedacinhos de amores que resolvi ir somando na intenção de colecionar um coração gigante, adorável e capaz de fazer tantos olhares perdidos e egos inflamados suspirarem de inveja. Não uma inveja do bem, mas uma inveja simplesmente na sua definição única, do querer assustador e imediato. Mas os meus não são meus, e a inveja só se encontra na posse do outro, nesse caso, é melhor esperar um pouco mais e desejar flores na árvore em um próximo verão.

Texto de Patrick Moraes