terça-feira, 24 de março de 2015

Eu queria que você viesse


Para ler ouvindo "Demorou Pra Ser"

Eu queria que você viesse de manhã cedo e me visse com o cabelo ainda bagunçado e os olhos cerrados tentando acreditar que era você. Que você chegasse de mansinho e me dissesse que ainda dava tempo de acreditar na tal felicidade, e que todos aqueles dias longe de você foram só uma prova de que o verdadeiro sentido está na espera. Eu queria que você trouxesse cafuné ao invés de bombons, sorrisos ao invés de flores e todas as histórias do seu dia ao invés de um cartão escrito "te amo".

Eu queria que você viesse de tardinha, para o chá das seis ou para um gole de água de coco olhando o pôr-do-sol. Que você sorrisse para o horizonte quando sentisse minha cabeça repousar no teu ombro. Eu queria que a gente sentisse aquela falta de palavras, aquela aterrorizante ausência de definições, aquele medo de não saber quando o pulsar do peito voltaria a sua frequência normal. Eu sei, ninguém gosta de incertezas, mas, no fundo, a gente também se incomoda com as mesmices dos lugares seguros.

Eu queria que você viesse no começo da noite, batesse em minha porta e me encontrasse de pijama. A gente sabe que você nunca foi daqueles que dá explicação para cada ida, muito menos para cada volta. Então, eu não te cobraria nada, nem o que te cabia, nem o que faltou ser quando você foi embora da última vez. Você deitaria em meu colo e esqueceríamos que lá fora tudo continuaria a ser do mesmo jeito, com a nossa distância, com a sua ausência, com a minha saudade. Era o truque barato que o nosso amor insistia em usar para disfarçar uma felicidade momentânea.

Eu queria que você viesse de madrugada, quando eu já estivesse dormindo, só para me desejar bons sonhos. Que eu nem te visse entrar, mas que você me cobrisse e fechasse a janela que eu sempre esquecia aberta por esperar que a nossa estrela te trouxesse para mim. Só dessa vez, eu queria não te ver, não ter certeza se foi sonho ou se, de fato, você veio. Só dessa vez, eu queria sentir que teu cheiro ficou na coberta que você me cobriu ou no pedaço do meu pescoço que você beijou antes de ir.

Eu queria que você viesse quando tudo por aí já não bastasse, quando você percebesse que a minha ausência era o vazio inexplicável dos teus dias. Quando seu pensamento em cada fim de noite viajasse para cá e você não soubesse como acalmar teu peito inquieto, incomodado com esse tempo que não chegava. Eu queria que você chegasse e ficasse; que você tivesse a certeza que vir já não era apenas fugir para um encontro casual com a felicidade. Eu queria que você viesse quando percebesse que nosso amor já não aguentava mais esperar pelo dia que você não precisasse mais vir. Só assim, a gente faria daqui o nosso abrigo, o nosso lar, o conforto de dois corações que estavam cansados de chegadas, partidas, ausências e saudade.

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 3 de março de 2015

Quando eu te disse adeus


Para ler ouvindo "Story in Blue"

Você foi embora, e eu quem disse adeus em silêncio. Eu sei, essa coisa de perder nunca foi fácil para você, que se acostumou desde cedo a ter tudo que quer e na hora que quer. Já não podia mais calar todas as vezes que ouvia você chamar aquilo de romance. É que já não faz mais sentido viver fingindo um amor conveniente. Para mim, amor de verdade só funciona se fizer sorrir, mesmo que chova; se acarinhar o peito, ainda que tudo seja confusão. Amor de verdade precisa vir no volume máximo, mesmo que a melodia soe calma noite ou outra.

Você, que parecia ser a falta que atormentava minhas noites de solidão, abriu a porta e foi embora com lágrimas nos olhos. Ainda me parte o peito te dizer que todo aquele vazio era carência, e que não fomos escritos para sermos dois. Na verdade, demoramos para peceber que já não havia sentido seguir o mesmo caminho se nossas mãos não se atavam mais. O melhor dos sorrisos só acontece quando a gente se permite viver juntos. 

Parece que aprendemos a conviver com as nossas presenças no meio dos farelos de um sentimento que se transformou em pura aceitação. Era cômodo acreditar que as nossas brigas passariam, mesmo que fosse mais lúcido entender que nunca fomos o sonho um do outro. Fomos passagem e nunca um cais, por isso nossos barcos perderam o rumo quando a maré encheu.

Desculpa se meu tom parece amargo, mas meu coração não aprendeu a ser meio termo. Nunca lhe pedi que ficasse, nem para um café, nem para vida inteira. Desculpa se meu peito já não se encanta mais com os nossos abraços. Não nego cada palavra de carinho que te entreguei, nem dispensaria todos os beijos que roubamos. Só que o tempo passou, e o nosso amor acabou se desencontrando. Na verdade, acho que o amor nem chegou a nos conhecer, mesmo que a gente quisesse preencher os nossos vazios com devaneios.

Sem mágoas, o melhor é seguir em frente. Cada um cuida de si e a gente torce para que o destino nos agracie com uma nova história de sorrisos, carinhos e, quem sabe, amor. Eu sei, não é fácil reconstruir as coisas por dentro, mas ser feliz exige coragem.

Texto de Patrick Moraes