domingo, 26 de dezembro de 2010

Balanço 16/51

Mas só vou sambar com você pra divertir.
(Roberta Sá)

Roberta Sá continua sendo a voz que mais me encanta, continuo morando no mesmo 1004 e meu coração perdeu o rumo depois de tantas tentativas em ser sincrônico. As 51 ideias não passaram de meros planos que esperarão no próximo ano. Por sinal, detesto paridade anual e sei que isso é apenas mais uma percepção sem tanto fundamento, mas com tamanha força que atrai energias. Cresci e sei que não foram simples centímetros, a régua fez questão de mostrar que distância e afetividade nem sempre são compatíveis. Percebi que posso assumir as rédeas da situação e deixar muita gente babando pelo galope do meu cavalo. Fui nas extremidades e cheguei a conclusão que o veneno pode matar tanto pelo excesso, quanto pela falta. Infelizmente não provei todos os gostos filmícos, não li todas as frases clichês descompaçadas que conseguem me entender, muito menos aproveitei as oportunidades de conhecer o você eterno perdido por aí. Passei duas horas com a amiga que foi a metade de minha vida e percebi que o tempo é realmente amargo, capaz de esvaziar cumplicidades, mesmo que nunca consiga apagá-las. Não comecei a escrever um livro, mas tive ideias pra falar de tantos vocês que troco olhares todos os dias, em cada esquina ou passagem de carro em frente aos prédios vizinhos. As coisas quentes se limitaram ao sol de Jequié e alguns dias na capital baiana. Boas lembranças, pequenos firmamentos, mas saudosas experiências. Novos sabores, novos perfumes, velhas sensações, um ciclo de déjà vu. Tive a certeza de que quando alguém é passado não devemos mudar a condição temporal dessa pessoa no intuito de um futuro perfeito. Recaídas são sempre novas caídas e a gente só sente quando o joelho bate na pedra que a gente mesmo jogou. Reconheci que os rostos mais bonitos trazem as essencias mais insuportáveis, mas que continuo sendo teimoso na busca da pedra de topázio em meio a um deserto de jóias falsas. Desisti no processo de canalização de forças para atividades físicas. Em poucas palavras, preguiça é realmente um karma que carrego abraçada com quatro braços. Não banlacei as 25 prometidas vezes essa gangorra, mas com certeza oscilei bem mais que isso durante meu apasseio anual pelo parque de diversões. Resolvi arriscar um balanço, uma roda gigante e até mesmo o carrinho de bate-bate. Acredite, a aventura das batidas aceleram demais o coração e eu ainda prefiro o arrepio na nuca provocado pelo vento quando a gangorra sobe. Cumprir metas é sempre um problema e minha lista ficou quase intacta, sem riscos nas propostas que exigiam mais coragem, menos roupa e, até mesmo, mais romantismo. Acho que resolvi tirar toda a tinta vermelha da gangorra e usei o restinho que sobrou na lata no nariz. Não, ser palhaço não é ruim, desde que você saiba rir das próprias piadas que a vida prega. Mas depois tem que saber retribuir e na maior medida possível!

2011? Talvez eu faça mais uma lista cheia de libido, viagens e conquistas. A única certeza é que o item 1 está fora da escala.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sem estrela


I missed the opportunity
To get you babe to stay with me.

(Jamie Cullum)

Eu resolvi passar na porta da sua casa hoje mais cedo. Deixei dentro de um envelope branco todos os pedaços de lembranças e do meu coração que um dia pensei em fazer um vitral. Desisti da ideia antes de perceber as imperfeições que os cacos formariam associadamente. Eu só queria subir mais dois degraus e ouvir quantas risadas você estaria dividindo com quem te roubou de mim. Sinceramente eu nunca vou me perdoar por ter deixado você sumir da porta de minha casa naquela manhã. Você deixou o pior presente debaixo da minha árvore de natal e ainda conseguiu esconder a estrela brilhante em uma caixa preta, escura e apertada. Ela sofre, ela dá sinais de vida bem raramente, mas ela nunca mais conseguiu chegar ao topo daquele pé verde que eu tentei arrumar esse ano novamente.

Antes de deixar a carta, que por sinal manchou de lágrimas e pingos de tinta vermelha, eu tinha feito um desejo. Não, eu não seria tão cruel em desejar você de volta. Eu só queria te ver inesperadamente cruzando a praça e me dizendo que não conseguia tirar meu perfume de você. Eu só queria ter a certeza de que não passei, que a estrela você escondeu de propósito para mostrar que o melhor nem sempre está no saquinho vermelho do gordo de gorro. Não me interessa quantas vezes você dividiu a cama com outros corpos, eu queria ouvir teus gemidos de prazer que nunca sairam da minha cabeça. Sem bis, sem sonhos de valsas, sem passeios nas manhãs de domingo. Mas eu queria apenas te dizer que passei ali onde a gente chorou por causa das minhas inseguranças, por medo das tuas incertezas. E mesmo que os goles de champagne sejam sem brindar, eu vou olhar pra espuma e sorrir, preferindo aquela cachaça com chocolate.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 12 de dezembro de 2010

Outra vez

dos amores que eu tive
o mais complicado, o mais simples pra mim
o maior dos meus erros, a mais estranha história
(Maria Bethânia)

Sentei naquela mesa de bar com todos os copos coloridos em frente e se quer pensei em não rir aquela noite. Morango, por favor! Com som, a noite parecia apenas começar e logo os papos de futuro, o desejo de uma liberdade sem cobrança e de uma provocação a cada lado que eu pudesse olhar. Realmente, queria companhias interessantes, risos novos e uma felicidade em dividir um simples copo de vodka com limão e áçucar.

Aí que chegou o divisor de águas, o que eu menos queria pensar, muito menos ouvir. Soava mais forte, talvez fosse o timbre daquela cantora de bar, daquele violão antigo. Talvez minha saudade nem me fizesse lembrar de tudo outra vez, ali, no meio das bebidas vermelhas, verdes e amarelas. Mas deu vontade de te ver e sofrer mais uns minutos, uns dias. Deu vontade de saber que você não nasceu pra mim, mas que eu sou uma criança bem birrenta e quero a peteca rasgada que o menino da rua de baixo brinca. E você poderia caber naquela mesa mais uma vez, ao lado daquelas pessoas que nunca conseguiram te enxergar sem as brincadeiras e com tua verdadeira intenção comigo. E antes que eu começasse a pensar em todas as combinações que deveriam dar certo, em nossas transas, em nossos risos apaixonamente idiotas, em nossas implicâncias, nas mordidas de canto de boca com o olhar sonso ou com o puro medo de perder de vista o que até ontem era só nosso. E antes dessa parafernália de lembranças, o repertório mudou. Saiu de Bethânia e foi pra Rita, chegou no samba, chegou na encarnação da nova etapa de vida que talvez eu nem fizesse questão de viver, mas vivo. Aí esqueci aquela queixa, aqueles lugares que passei e lembrei dos próximos passos molhados, na areia. Será que cada pequeno poema de saudade me retomaria você? Será que isso é dizer com peito cheio que amei?

Vai ver as respostas estão no morango.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

No fim, sussurre


Somos feitos de intencionalidade, de desejos, de vontade de provar que o ângulo certo é formado no encontro dos nossos catetos. Somos um amontoado de mentiras organizadas minunciosamente para forjar uma verdade tão real que finca. Finja, seja apenas mais um artista de praça jogando confetes e malabares e nunca esqueça de sorrir. Ou simplesmente pegue o papel de suposto herói e faça do seu balaio de verdades uma mentira reformulada, criada, conveniente.

Destrua pontes, desfaça ligações, berre! Mas grite com força. Só assim você conseguirá fazer com que os sussurros sinceros sejam transformados em silêncio. O calar envergonhado, o olhar de canto de rosto por sentir apenas desprezo com tanta cena, com tanto palco. E aqui, há quem prefira ficar na coxia, rindo, aprendendo a ser artista com o pouco que lhe sobra nos bastidores, com o muito que lhe é dado nas fichas técnicas e nos roteiros escritos com intuição de quem quer um dia brilhar.

Talvez os fatos espetacularizados aqui não precisem mais tarde de gritos, de inexperiência, de puro sangue melodramático. Basta apenas um sorriso atrevido de quem sempre esteve no atrás-cortina, esperando a hora de pisar firme e dizer que chegou a minha vez!

Na Califórnia é diferente, irmão
É muito mais do que um sonho
.
(Lulu Santos)

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Paralelas


É tão melhor viver em paz,
Ninguém me faz sentir assim.
(Vanessa da Mata)

Levantei da cama só para escrever o quanto eu senti falta daqueles depoimentos que sempre lia em minha página e guardava só pra mim. Letras roxas, em negrito, com uma dose de paixão tão grande que nunca senti de novo igual. É bom ser egoísta, é bom preservar nossos desejos e saber que quem importa realmente dividia. Eu sei que não existe mais nós, não existe mais o boneco do olho azul, muito menos as nossas intimidades. Tudo ficou diluído nos quase dois anos, nos destinos que seguiram em paralelas talvez nem tão simétricas. E foram pontos humanos para descontruir uma frase que poderia ser longa, mas não adiantava tanta condicionante, tanta causalidade. E antes que você sorria e pense o quanto eu fui idiota e, mais uma vez, estou sendo, eu lembro da ponte. É, a tua recém intimidade misturada com o mesmo riso pelos meus medos. E não seria agora outro medo? O medo de me fazer exposto demais, de te fazer um esperto mago da verdade. O aparente bem estar, a simpática aproximação, o não-saber-prevendo, tudo que acontece não me faz pensar no futuro como algo inovador. Prolongar? Prefiro acreditar que apenas despertaríamos uma profusão de sentimentos apagados, adormecidos. Mas aí eu deito de novo e meu divisor de sonhos apenas me questiona se vale a pena deixar que roubem todas as lembranças que um dia construimos nas paredes brancas do meu apartamento. E eu apenas respondo ao menino dos olhos azuis: talvez não.

No fim, são coisas boas.
No fundo, saudade.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Arlequim


Vai te levar leve a vagar
Prum lar de fina-flor
(Los Hermanos)

Chega em determinado lugar da ponte que você precisa decidir o próximo passo ou a simples decisão de se jogar no abismo de incertezas. Voltar não vale mais a pena, já que praticamente metade e meia do caminho foi percorrido. Um pulo para o final? Talvez não, talvez a madeira não sustente com tanta firmeza e seria arriscado se ferir nas lascas esmiuçadas. Direita ou esquerda? Será que lá embaixo as cores conseguem se harmonizar tão bem quanto o leve balançar da ponte? Céu azul, azul do rio. Mas quem disse que depois do pulo ele ia se molhar?

Equilíbrio: estático, tático, físico, "sentimentaLógico". Na corda bamba do equilibrista, esperto é quem consegue dar cambalhota e segurar o guarda-chuva com apenas uma mão. Esperto é quem faz graça para a platéia e ainda consegue entregar uma rosa imaginária a donzela mais bonita que está sentada na primeira fila. O palhaço, o mestre dos sorrisos que um dia não soube o que fazer com a maquiagem avermelhada que toda noite usava para pintar seus lábios. Talvez mudaria de nome, usaria uma roupa mais alinhada, uma postura mais robusta, mas tão colorido quanto estava antes. Não, ele não seria o bobo-da-corte, nem o bêbado equilibrista, muito menos o mestre das gargalhadas embaixo da grande lona. Bastava a fantasia de ser o arlequim, até o dia que perder seu coração para outra pessoa e entregar o título que tanto desejou.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 24 de outubro de 2010

Homônimos


Deixa o amanhã e a gente sorri que o coração já quer descansar. (Los Hermanos)

Te conheci há dois anos. De casaco verde, cabelo meio bagunçado e o jeito relaxado de falar com certa autoridade. Você era quem talvez eu queria outro dia qualquer, outro sábado vazio, outro inverno pra esquentar. Era interessante, era a bola meio murcha que poderia encher e fazer um gol. Mas nada que me fizesse tirar a camisa, sair correndo e vibrar.

Te conheci há dois meses. Era um simples final de uma viagem que duraria alguns segundos a mais. Você tinha uma arma, ou duas, talvez três depois que me acertou. Dançamos, piscamos, sabíamos que mesmo os números trocados não tornaria nossa função simples em uma artimética complexa. Insisti, lembrei dos pássaros, esqueci o boné e estou há dias enjoado de qualquer doce.

Te conheci há duas semanas. Não era pra ser, era para meu dedo podre mais uma vez funcionar. O tipo errado de escolher sempre é o que atrai minha atenção, comanda meu inconsciente tão forte que Murphy certamente o admira profundamente. Mas em meio aquele acidente, nós já estamos lá. Cheguei a subtrair seu poder de existir-ser pra mim e te comparei a metade do que se pode chamar de realização noturna. Se não erro na escolha, erro nas percepções iniciais.

Ser gente grande era dividir risos mesmo que em cenas diferentes, mesmo que por motivos bobos. Era dividir a pipoca, o refrigerante e o espaço entre cada respiração. Era compartilhar o ombro, as pequenas horas e se atrapalhar quando a marcha entrar na terceira. Três encontros, três talvez (não) eternas histórias, mas três laços que homonimamente se cruzam. Talvez os nomes se troquem, se confudam, se arrisquem a ganhar outras organizações ou ao menos um sobrenome que faça a atração seguir por mais tempo.

Texto de Patrick Moraes

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Amanhã

É quase um romance. Desligue nossos celulares, três dias pra um começo, vem! (Vanessa da Mata)

Levantei cedo só para olhar da janela o céu ficando claro e poder pensar que amanhã está mais perto de mim. E vi lá do décimo andar uma menina de blusa vermelha andando sozinha, sem livros, sem mochila, despedaçando uma flor aos poucos. Vai ver ela só queria brincar de mal-me-quer e querer cada pétala no chão dizendo o quanto ele a queria. Vai ver meus olhos queriam mais que tudo o amanhã embaçado da noite. Sorri sozinho de repente!

Pão, geléia de morango e um copo de leite morno. Odiava comer pela manhã, mas aquele dia era diferente, era antes de amanhã. Queria até uma amora depois do pão, uma música de Calcanhotto no rádio e apenas uma mensagem na caixa de entrada do celular com duas palavras: te espero! Mania boba de querer controlar tudo, planejar os dias e ter certeza que reciprocidade era a sonoridade de amanhã.

Peguei o carro, liguei o som e tocou aquela música que sempre sonhei ouvir deitado em tua cama, fazendo cafuné e brincando de verdades ocultas. Com certeza iríamos rir depois das besteiras e das manias irritantes que sem querer a gente confessou, mas se a cama fosse de solteiro a proximidade diminuiria a incoerência e faria de simples beliscões um carinho. Cheguei ao destino de hoje, mas a estrada deveria ser bem mais longa do que esperava. Desliguei o carro e fiquei parado por alguns segundos, perdendo aula, mas lembrando das formas estéticas que vivenciei contigo, dias atrás. O feeling que me fez despertar foi o simples bater de galho no vidro da frente. De certo, ele só queria dizer que o amanhã a gente não planeja, a gente simplesmente espera pra viver.

Texto de Patrick Moraes

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Beth

Running in circles, chasing tails, coming back as we are. Nobody said it was easy! (Coldplay)

Aquele mero detalhe mudado na sexta até ontem não fazia o menor sentido, não alterava minha capacidade de rir, muito menos a forma como eu conduzia meus desejos. Mas toda aquela sensibilidade que eu trazia em cada construção simplesmente se desfez, ou melhor, se refez. Refez em outra forma de ser sensível, em outro ritmo para pulsar. Poderia ter sido como o castelo de areia que o mar simplesmente derrubou as duas torres, levou a bandeira, mas esqueceu de tirar a ponte que abriu o portão da frente.

Aquele sorriso largo por debaixo do boné vermelho já não me deixava tão bobo em contar os minutos, não instigava meus ouvidos por um bloco do eu sozinho e muito menos sentia que dessa vez o ser sensível estava esperto. Ele continuava bobo, continuava disperso na multidão de incoerências e verdades que quis mentir pra si. Dançava na chuva sem se preocupar em molhar a roupa, em transparecer desejos, em deixar a água revelar a alegria por ter se encantado aquela noite. Poderia ser simplesmente o menino loirinho que corria a praça inteira na intenção de achar a bola grande, colorida, transparante.

Aquele laço de verdade contado por simples dedos, por incansáveis elogios. O ser quase ingênuo, o meio duvidar acreditando, o simples entregar a parte instável ao mínimo de confiança. Era a parte que pendia da gangorra, o arranhar dos pés quando o balanço azul não voava tão suave. Era o pássaro que ele viu azul se tornando lilás, vermelho, rosa, amarelo. Poderia atuar como Adam, berrar depois de ler a agenda com um mero detalhe enganador e, por fim, entender que os guaxinins podem não morar ali, mas com certeza se mudarão a cada noite em busca do jardim escuro.

Bolas murchas, desejos mais sinceros e uma ponte em reconstrução. Talvez os livros de Beth tragam um sentido para toda a história!

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Devaneios

"Sure i can accept that we're going nowhere, but one last time let's go there." (Paolo Nutini)


Esboçava levantar e não conseguia. Rebatia a cada sensação de repulsa que imaginei. Não podia acontecer de novo e eu tinha certeza que aquele sorriso era seu. Eu via nossas juras de anos atrás serem feitas, mas dessa vez eu sabia que você estava mentindo. Ou que nós éramos como o casal de pássaros em cima da rede de fios que cortava o sobrado que você morou. Eu sabia que a moto ia virar na próxima esquina ou que seu punho forte ia ser fraco para aguentar o simples aperto de mão que você sempre demonstrava em público.

Desesperadamente eu ergui as mãos e arranquei a coberta, que dessa vez era cinza. Mas mesmo assim não conseguia abrir os olhos, eu queria te ver de verdade e tinha medo de romper com o campo de pertubação que eu enxergava. De repente te vi de outra forma, em outra cor, com outro tamanho e com a mesma maneira imbécil de conquista. De repente eu senti que agora era mais forte, menos apaixonado e mais avassalador. Era menos princesa, se reconstruia em um personagem meio épico, meio moderno, na figura mais capciosa que eu podia desenhar mentalmente. Era puramente instintivo, meramente ilusório, refletia um espírito audacioso, penetrante e canalha.

Why would you speak to me that way? - Eu talvez te perguntasse isso, eu talvez te questionasse tantos porquês que ficaria insuportavelmente assustador pra você. Mas tudo não passou de um sonho e a pergunta vinha do despertador que me chamava para outros olhos ao levantar.

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Gangorra


"Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, tempo tempo tempo tempo, és um dos deuses mais lindos."
(Maria Bethânia)


Crise hormonal. Só pode ser isso que regula minha bipolaridade rotineira. Acordo com um pedido disfarçado de ordem e vou deitar com uma vontade antiga que nunca se perdeu. E passam por mim sinônimos, vírgulas vespertinas e uma reticência longa no finalzinho da tarde. Já não sei bem em qual gramática eu conseguiria me adequar, qual a conjungação verbal reflete minhas vontades e qual o sujeito para minha oração não precisar de um predicado tão distante.

Relativismo: variação, contrário ao absolutismo, distante de tronos e altares, gangorra. Começo a entender aquela história do copo meio cheio e meio vazio, e vejo que nem sempre a gente quer mais quando se tem o suficiente. Talvez o excesso peque, me agustie e me faça desejar menos. E mais uma vez eu prefiro dizer que não sei quando vale a pena exagerar na pimenta.

Lembrei que não adianta tentar bancar o super-herói e querer me livrar de todos os distúrbios que meu corpo insiste em provocar. O menino indeciso e impaciente vai continuar a bater o pé quando achar que está certo, vai querer continuar atravessando sambas e dizendo que a batida dos tambores é mais forte. Vai acordar na manhã de segunda com uma vontade de continuar na coberta verde sem se dar conta que as nuvens se transformam na mesma velocidade que as oportunidades. Mas vai perceber que semanas depois as irritações são outras, sem motivos, por bobagens, mas extremamente instintivas.

Esperto é quem sabe que no equilíbrio não se encontra os suspiros. O melhor mesmo é o sobe e desce da gangorra, o eterno fluxo de estado de espírito.

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fazendinha

"Eu não olho pra trás, não me arrependo. Vou com a roupa do corpo, não sei bem pra onde mas não paro não." (Filipe Catto)


Parecia que nunca ia chegar, que os pedaços daquele caminho jamais formariam a estrada de sol que tanto desejou. Choveu! Mas dizem que depois da tempestade vem a bonança, e que com o rapazinho não seria diferente. Cresceu longe dali, mas sabia que uma parte de si um dia pertenceria àquele lugar.

Era menino, da fazendinha velha que um dia conseguiu aumentar o pasto, criar umas ovelhas e comprar um velho jipinho amarelo. Aprendeu desde cedo que ali era seguro, confortável, confortante. Mas no meio daquele palheiro, sabia que ia encontrar a agulha de prata. E todos os dias passava por ali, olhava por ali, sentava por ali. Um ali que chegou a cintilar de leve, mas nunca a brilhar.

Foi de repente a sensação do vento no farol, a graça dos pequenos macacos e o simples frio na barriga ao imaginar apenas aquela avenida. Por mais distante, parecia perto. Dentro dos olhos atiçados, atentos, espertos, curiosos, morava um pássaro. Azul, com canto tímido ainda e asas aguçadas para rodar o céu da estação. O calor daquele pequeno galpão, a intensidade daquela presa, o simples crime cometido na busca do prazer. Provocação e graça. O menino da fazendinha dourada caiu no coração doce, vermelho, mas pequeno.

E depois a estrada transformou-se em lua e o menino dormiu.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Alguém por aí


"And I thought so too when we first held hands." (Poema)

Parado no canto da sala, pensei no tipo ideal. É, aquele que a gente suspira só de imaginar do nosso lado num futuro talvez não muito próximo. Eu sei que já passei da idade de acreditar em belas adormecidas e sapos que viram príncipes. Mas eu também sei que em um lugar existe alguém que será meu, do jeito mais sincrônico e apaixonado possível.

Foi quando eu pensei na lista de exigências habituais que eu costumo discutir em rodas de amigos. Não, não é o trivial que me deixa bobo quando imagino meu final feliz. Já desejei viver a cena de Scarlett Johansson e Chris Evans em O Diário de Uma Babá: comer pizza tomando vinho na escadaria de uma igreja qualquer. É, bobeira minha! Há quem prefira transar na cadeira de dentista, mesmo que num ato de liberdade, como Julia Roberts e Clive Owen em Closer. Mas ainda sou admirador dos tipos mais certinhos, menos complicados e mais encantadores. O bom e velho par de mãos dadas ainda é o elo pelo qual meu coração grita fortemente.

Mas vem também o corriqueiro, o pontual, a lista que só de pensar torna impossível encontrar tal achado. Tem que ter charme e junto uma dose de bom conteúdo, porque beleza só não me convence. Que me faça rir de tardinha, entenda meu silêncio quando acordo e consiga me fazer suspirar à noite. Não precisa saber dançar, mas que saiba cantar bonitinho e faça isso vez em quando só pra mim. Que frequente a academia todos os dias, saiba cozinhar e diga em alguns sábados: "amor, vamos fazer um programinha diferente hoje?". Tá, eu sei que no final a gente vai acabar no mesmo lugar dos outros finais de semana, mas que abuse da criatividade com bom senso, claro. Também não precisa usar só marca, etiqueta pra mim é bom gosto. Que me leve em lugares incríveis, me diga coisas bobas e arranque tudo que for capaz só com o olhar. Alguém que divida, nem que seja o último pedaço da pizza, o último gole de vinho e o grande beijo da noite.

Pode ser alguém que eu nem conheça ainda, pode ser alguém que esteja do meu lado o tempo todo, mas com certeza vai ser alguém que consiga me fazer dizer "Eu te amo" como nunca disse em nenhum instante da vida.

Texto de Patrick Moraes

domingo, 11 de abril de 2010

Entre dois

"I come and go just like that's just
how it's meant to be." (Beeshop)

A doentil mania de querer namorar acordou comigo naquela manhã. E, pior, eu tinha um encontro marcado há algumas horas e não tinha idéia de como lidar com aquilo. Realmente, eu estava protagonizando aquela comédia romântica que se assiste em pleno sábado a noite com uma vasilha de pipoca e um pote de chocolates entre as pernas. Era deprimente, mas era necessário. Sem cobranças, sem compromisso e sem saber o que viria de lá. De cá, só mais alguém indeciso, incompleto e desesperado.

Eu não era o professor bonitinho da academia que recebe uma cantada barata da gostosinha dada e simplesmente ri. Muito menos meu melhor amigo que poderia transar todos os dias com alguém diferente e seus problemas estariam resolvidos. Eu não poderia parecer desesperado, nem vulgar, nem atirado, nem frágil, nem nada do que se diz incorreto para um primeiro encontro. Sim, eu sou adepto dos manuais de primeira vez. Qual o problema?

Pronto, mais um. Abençoada essa chuvinha que resolveu mandar em dobro o que até ontem era desejo longe e improvável. Conciliar: não domino com destreza essa arte, mas para um principiante eu sentia que me sairia bem. Os monólogos em frente ao espelho e as teorias de Tati Bernardi não falhariam agora. Esperava assim! Para o elevador descer até o térreo foi quase o mesmo tempo de eu desistir e subir de escada os dez andares. Mas não, era tarde demais e já havia atendido o bendito celular. Quando eu digo que não gosto desse meio de comunicação não é sem razão, é covardia mesmo!

E foram dois universos, duas conversas, dois perfumes, dois toques, dois jeito de tocar em mim, dois beijos. A escolha estaria em minhas mãos e mais uma vez meu dedo podre faria seu papel melhor que meu dom de conciliar. Quase pensei em ter dúvida, quase acreditei que o cheiro do pescoço poderia ser atraente. Não, nem Vanessa da Mata seria capaz de me conquistar. Eu já tinha escolhido o calabouço mais fundo e mais charmoso e evidentemente menos claro para descer. Mas não dá pra acreditar que um poste dentro do mato convença alguém de que o amor existe, não é?

Texto de Patrick Moraes

quinta-feira, 11 de março de 2010

O tipo errado

"Os poucos que viram você aqui me disseram que mal você não faz e se eu numa esquina qualquer te vir será que você vai fugir?" (Los Hermanos)


Depois de descer do carro olhei pro céu e prometi que seria diferente a partir de hoje. Talvez não fosse, mas tenho a pscicótica idéia de sempre me prometer novos começos. Sorri sozinho e quando menos esperei sorri mais uma vez em ver que você estava ali. Eu te disse ontem que os desejos podem manipular os caminhos e nosso encontro poderia acontecer quando menos esperassemos. Não imaginei que seria aquela hora da manhã, cedo demais pra acabar minha promessa. Mas me perdi completamente nos pensamentos quando senti sua mão em meus braços. Por que você insiste em me puxar? Proximidade demais é perigoso pra mim, que ainda tento te fazer despercebido em minha vida. Mas você sorri, você é descaradamente convincente com seu charme bobo, com suas histórias, com seu perfume forte. Você é exatamente o que me deixa tonto e faz eu transformar momentaneamente as minhas convicções em simples crises de achismo.

O tipo errado que eu insisto em querer. Parece que repetir as frases marcantes depois que acaba a comédia romântica no cinema ou mesmo os chocolates em cada data especial não têm a força das simples expressões em teu rosto. Parece que a proposta que ouvi no pé da escada deixou arrepedimento e levou a oportunidade que parecia certa. Mas ainda bem que as minhas noções de certeza se confudem em sua frente. E carrego fortemente meu jeito de guardar, de ocultar o que você tanto quer. Talvez sua força se esgote nesse meu tipo exato de charme, de mostrar que a gente reveza o controle e eu também posso apertar o pause. Mas depois de tanto usar a tecla de barrinhas, é inevitável a desconfiança que você acione o stop com tanta força que a música pare e eu seja forçado a mudar de CD.

Mas mesmo assim o tipo errado é a armadinha no meio do nada. Certo quando quer, exato quando pode e convicente demais pra quem não sabe lidar com isso ainda.

Texto de Patrick Moraes

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um ponto que brilha

"All we have to do now is take these lies and make them true somehow" (Danni Carlos)

Certa vez olhei pro céu e vi uma estrela. Brilhava tanto que meus olhos ardiam, mas era de desejo, de admiração, de apreço pra tê-la. Sentado na porta de casa eu sonhava em crescer tanto a ponto de poder alcançá-la. Ao menos toca-la uma vez, era isso! A bola não tinha graça, as cores até me envolviam durante o dia. Mas se quer esqueci um segundo daquele ponto em meio ao preto.

Foi de repente que me apresentaram o sol. É, aquele todo poderoso, que é capaz de incendiar o ambiente e até corar os mais azuis. Era tanto brilho que eu pensei ser ele meu novo sonho. Mero engano, ainda era apaixonado pela estrela. Pequena, delicada, mas brihante o suficiente. Era terno tê-la, era meu pequeno conto de aprendiz.

E veio a lua, vieram as histórias de Marte, a sedução de Vênus, a distância de Plutão e todos aqueles meteoros que viram história em quadrinho. Conheci, me dispus a entendê-los, a saber como cada canto de um Universo pode ser. Pequei por querer mostrar a superioridade da estrela aos demais, pequei por achar minha estrela era maior que a de todos e esquecer por momentos da individualidade cósmica. E mesmo pecando, eu fui capaz de reter a estrela em mim, internamente, e relutante a transformei em minha verdade.

No conto de aprendiz não existe verdade certa ou errada, só a existe e ponto. Talvez todo resto seja mais interessante que o puro julgamento dos habitantes Terrestre. Mas certamente o cosmo é enorme demais para eu vagar, caminhar, conhecer e sentir. Porque sentir é manifestação da felicidade, e pra eu ser feliz só preciso da minha estrela segura, alta e incandecente.

Texto de Patrick Moraes

sábado, 23 de janeiro de 2010

A infinita janela de casa


"O mais importante do bordado é o avesso. O mais importante em mim é o que eu não conheço" (Maria Bethânia)

Foi de lá que eu cheguei naquela tarde de domingo. Dava pra ver a goiabeira ainda, quase sem galhas, mas em pé! Ainda via o menino que subia nas telhas de casa para chupar goiaba, mesmo sabendo que ia ouvir os berros de reclamação depois. Era a coragem de um pequeno herói, o desejo de fazer diferente do comum, a sensação do perigo. A goiaba nem era tão doce quanto as que tinha na geladeira de casa, mas o ácido da aventura o estimulava a sair da janela.

Abro a janela! As recordações são inevitáveis, aquelas mesmas de um tempo que eu cresci sem cair da bicicleta porque preferia olhar. Talvez meu trauma seja menor quando leio Tati Bernardi dizer que existem aqueles que sabem falar de si tão bem por conviver intimamente com as histórias que um dia ensaiou nos desenhos. Não foi bem assim que ela disse, mas eu digo. E me apaixono a cada texto por ela!

De volta a janela, acreditei ser lá meu refúgio, só esqueci de me avisar que não devia ser moradia. É bom subir na goiabeira vez em quando, cair da escada, ralar o joelho e sair do intimismo dos contos de herói que só ficam no papel. O parapeito não pode esquentar com os braços, só vale sentir o friozinho raramente. Mas mesmo ouvindo Bethânia cantar a janela do nunca mais, resolvi procurar debaixo do meu travesseiro a coragem do menino das telhas. Vai ver ele me ensina o caminho da porta ou pelo menos onde se esconde os mais ácidos desejos.

Texto de Patrick Moraes

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

De pote vazio

"Eu faço e desfaço, contrafeito. O meu defeito é amar demais" (Maria Bethânia)


Conhecer, conversar, ficar, conhecer mais, ficar sério, namorar, amar. Esse rito me cansa de tal forma que eu preferia ser adepto ao sem compromisso e com prazer. Não que eu gosto sem prazer, de forma nenhuma, mas banalidade é vazio demais pra meu pote de ouro. Embora não faça sentido ter um pote cheio se no final ele vai derramar, quebrar e minha gangorra vai balançar como sempre. Sortuda é minha prima que nunca pensou nisso. Se não tem com quem contar sempre do lado, também não precisar ficar semanas lembrando sofrivelmente alguns relances de prazer. É mais prático, aproveita a parte boa do todo e não é nada taurino. Deve ser esse último o problema que me persegue.

E o pior é quando bate aquela crise, quando os meus berros poderiam dizer o quanto eu queria que você se fudesse. Mas não, você sempre foi demais pra eu fazer isso! E mesmo arriscando dizer em forte e bom som que na minha janela você só passa agora, não sei como seria estar perto mais uma vez. Se estar do outro lado da parede que separa o eu do você já fez meu coração descompasar, imagina frente a frente? Queria saber por que você não é mais uma daquelas pessoas canalhas que eu perco a tarde em apontar as cachorrices que me fizeram sofrer. Mas ao invés disso, você foi quem me pediu em namoro com um papel de chocolate e terminou na minha porta olhando triste em meus olhos. Se era tristeza, eu que estou dizendo, vai ver era remorso por algum ato falho.

Eu jurei que faria diferente depois da primeira vez. Passou! Jurei da segunda até a quarta. E mesmo assim, eu continuo a insistir no amor. E adoro ler Tati Bernardi dizer que o amor não existe, já que não há pra sempre. E se não há pra sempre, acho melhor eu acostumar a aproveitar o começo do salto, mergulhar rapidinho na piscina de bolinhas e tratar de sair correndo.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vamos mudar?


"I Know that I must pass this test so just pull the trigger" (Rihanna)

E quando levantei ainda vi aquele mundo em tons pastéis se passando. A árvore da frente ainda esverdeava, a cachorrinha vem de manhã e deita aos meus pés e o mundo continua parado. O meu mundo, só pra ser mais claro! Parece que as tão sonhadas férias perderam o valor na cidade das praças. Outrora eu me convencia com tão pouco, hoje eu quero mais. Nesse mais nem precisa existir você, só precisar conter ingredientes para fermentar meu bom humor. Pode ser uma noite de excessos, que comece na frente do espelho de casa e termine com os sapatos na mão voltando alguma avenida desconhecida. Se o preço for uma ressaca - até moral, que me deixa o domingo inteiro sem saco de olhar pra ninguém - eu estou aceitando.

Parece que o ano começou com cara de tédio. E mesmo cumprindo um dos 51 itens que escrevi como metas audaciosas - só pra não dizer outra coisa -, eu preciso de mais. Vamos dobrar a coragem, aumentar as oportunindades e multiplicar os copos. Quero me aventurar e escrever os prometidos 25 textos com cara de novidade. O pior é imaginar que todos eles envolvam algum sentimento que cansei de tentar ou mesmo o tapa de luva que tanto recebi.

Nem sempre a árvore da porta de sua casa vai florescer no outro dia. A cachorrinha pode acordar tão disposta e esquecer que precisa de seus pés por mais uns 5 minutos. Mas a grande virada de mesa só depende de quem está disposto a encarar mais um jogo com as cartas que têm. Afinal, o blefe é a arma mais poderosa de um bom jogador!

Texto de Patrick Moraes