segunda-feira, 20 de julho de 2009

Obrigado, anjos!


"E se for, vai levar junto um pedaço de mim."
(Claus e Vanessa)


Eu queria poder entender como os anjos chegam em nossas vidas! Já pensei que a resposta vinha do céu, com aquelas asinhas brancas e uma auréola brilhante. Mas vi que não. Os melhores anjos chegam em circunstâncias diferentes, nos momentos mais adequados e com a intensidade que não se pode adjetivar. Pode ser naquela festa ao som do tuntz tuntz, quando eu dançava sem perceber nada. Ou simplesmente em uma confusão de lugares quando a gente tenta se encontrar para uma saída na rua. Aquela velha parceria de colégio, aquele baú enorme de contos, segredos e estórias do mundo de Alice. Um anjo que nasceu ao meu lado, que cresceu do meu lado.

Ando protegido por meus anjos. Ando protegido com as armas do amor que me cerca. E vocês são escudeiros do bem, da minha felicidade. Sabem de cada reação, daquele olhar inesperado, daquele sentido aguçado, daquele coração acelerado e do meu ego gritando baixinho. Do Rio, da Bahia, de Vitória e de todos os cantos. Longe, perto, vendo todos os dias, sumindo algum tempo, me aconselhando, ouvindo conselhos. Cada anjo tem um perfil para me fazer sentir melhor.

Gosto de anjos palhacinhos, anjos pequenos, anjos simples. Gosto de anjos "impuros", anjos secretos, anjos baús. Gosto de MEUS anjos, aqueles que guardarei no coração por maior que sejam os empecilhos. Anjos que saem a noite, anjos que saem de dia. Anjos que conhecem meu gosto pelo sanduíche da lanchonete ali perto, ou mesmo por belezas infantis. Anjos que sabem me fazer feliz em um domingo a noite na varanda da casa de esquina.

Obrigado, anjos!

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 14 de julho de 2009

Podem ser enganos, podem ser verdades!


"Os deuses, as dúvidas. Pra quê amendoeiras pelas ruas?" (Adriana Calcanhotto)



Mais um ponto final. Mais um parágrafo que resolvi começar na estória. As linhas velhas foram gravadas com tanta delicadeza que acabou se desfazendo no meio da narrativa. Você parecia ser personagem principal, ganhava tamanho espaço na trama, que jamais nenhum mocinho conseguiria. Talvez nem mesmo o boneco loirinho com a blusa listrada foi capaz de segurar a corda que eu sempre quis manter. Não, não é problema do herói, nem existe o vilão que derrubou isso tudo! Apenas a trilha sonora chegou na última faixa e o "Kiss Me" não comove mais como antes.

Outro ponto, outro início de situação. Percepções, riscos e uma atitude que nunca existiu. Apareceu sem sentido, como um elemento a mais na forma de escrever. Dialogal demais não serve. Sem temáticas próprias, num rito de curiosidade e desejo. Talvez fôssemos testemunhas de mais um começo, sem fim. Não existe certeza, não existe engano! Existe a intuição, o querer da novidade, das sensações estranhas, imperceptíveis, inusitadas.

O cheiro! Sim, ficou impregnado até hoje! E na noite fria, ao lado da janela que você tanto gostou, eu senti o perfume. Embaçado, o vidro parece ocultar as luzes lá embaixo, lá em cima, onde você prometou escrever um episódio dos meus contos reais. As luzes vermelhas chamam mais atenção e, no meio delas, o céu é azul demais pra mim. Mas da janela do quarto eu consigo enxergar claridade, eu consigo sentir o calor do vento aqui de cima.

Agora acabaram as certezas. E os enganos ficam para quem não quer enxergar.


Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O pequeno


"Há um menino! Há um moleque! Morando sempre em meu coração."
(14 Bis)


Vi aquele garoto de pés descalços brincando na calçada. Pipa no céu, coração na mão. Mordia os lábios num sinal de apreensão e nem sequer olhava para o lado. O mundo se passava no carro ali em frente, aquele vermelho que buzina sempre na esquina da confeitaria.

Voar não despertava mais seus instintos. Ele corria, se escondia, brincava de fantasiar o herói do cinema. Ter poder, ser o faroeste americano. Talvez sem a mocinha, talvez sem amores. Sabe ser dos vários um só, mesmo sem usar uma máscara colorida ou de metal.

Balbuciava as palavras novas com tamanha maestria que parecia adulto antes do tempo. Puxou minha blusa e pediu ao "tio" um minuto para uma partida de pião. O sorriso ingênuo, as bochechas rosadas e o desejo de companhia reluziram. Peguei em sua mão e fui apresentado ao mundo mágico da diversão.

Parecia ganhar uma nova infância, parecia saber o significado real de felicidade. A casa velha de um passado, os brinquedos inventados, as bugingangas do baú cor de abóbora. Tudo parecia simplesmente ganhar vida. As memórias foram resgatadas impetuosamente. Olhei o menino e vi um eu de tempos.

Foi quando o bonde passou e o sonho se desfez. A criança partiu pela janela, alçou vôo. Mas o espírito natural fincou em mim. O gosto em brincar, em velejar suavemente o barco até aquele horizonte mais distante. Entendi que o sol pode não aparecer sempre, mas vale a pena sorrir quando os pingos da chuva caírem.

Texto de Patrick Moraes