quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Amanheça


Para ler ouvindo "Vive"

Sobre términos e começos, nada é muito fácil. Às vezes, despedidas machucam e recomeçar é sinônimo de fracasso. Às vezes, dar um fim é simplesmente o ato mais corajoso e libertador que podemos ter, assim como dar início é também dar fôlego aos nossos sonhos. O mais engraçado é que nenhum sentimento ganha forma sozinho. Nenhuma decepção ou surpresa é fruto apenas da vida. 

O ano vai embora com muitas mensagens de “poderia ter sido melhor”. Eu sei, poderia ter melhorado de emprego ou feito tudo aquilo que a consciência grita quando a cabeça encosta no travesseiro. Poderia ter se dedicado mais nos estudos ou investido seu tempo em alguma coisa realmente proveitosa. Mas cá entre nós, os nossos fracassos não precisam de anos para serem culpados.

Feliz de quem acredita sempre naquilo que pode ser melhor e enxerga no ano que se despede aquilo que nós podemos ser sempre: melhores. Não dá para ser perfeito em tudo, mas lembro de ter ouvido dizer, neste ano, que a beleza mora mesmo nas imperfeições. E quem se importa se o amor da sua vida não deu as caras ainda? Talvez fosse o tempo de você descobrir uma das melhores pessoas para amar: você mesmo. 

No fim, parece que a balança tende para aquilo que não deu certo. É como se todos os sorrisos, as pequenas conquistas e os grandes abraços se escondessem para que a gente fosse capaz de olhar os nossos medos, erros e omissões mais fáceis. O pior é achar que esse monte de deslizes vai ficar para trás com os votos de ano novo e as luzes no céu. Talvez a gente se esqueça de que o primeiro de janeiro só acontece quando a gente entende que erros são corrigidos com atitudes e medos só morrem com coragem. 

A responsabilidade pela forma como terminaremos ou (re)começaremos cada etapa da vida é nossa. E acredite: o jeito como olhamos o nosso caminho é capaz de tornar diferente a experiência de viver. Por mais que os dias estejam cinza, permita-se colorir os pequenos cacos que sobraram. Nem tudo são flores, mas as tempestades não precisam ser constantes. O céu só é azul para quem sabe que as noites não são eternas.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Ricardo William

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cativa


Para ler ouvindo "Somewhere Only We Know"

Me espera, menino. Em cada noite em que olharmos as estrelas de janelas diferentes ou em cada raio de sol que nos acordar distantes um do outro. Me espera com a paciência de quem espera uma rosa crescer e, ainda assim, vê motivo para regá-la todos os dias. É que a paciência é um dos dons de quem sonha com jardins floridos.

Cultiva meu bem querer como a coisa mais preciosa que você poderia ter encontrado. Não apenas por ser meu, mas por ser sincero e feito pra ti. Desde pequeno, aprendi a ter esperança naquilo que só pode ser sentido com o coração. É como se a gente fosse capaz de cultivar carinho em lembranças e sorrisos em recordações. É como se a gente aprendesse a guardar o amor dentro de si para que ele se faça presente até mesmo nas ausências impostas pelo destino.

Não desiste de nós e nem me faz esquecer todos os segredos que confessamos debaixo da coberta ou de frente para o mar. Não importa onde você esteja, não desiste de voltar para ver meu sorriso florescer a cada vez que te ver chegar. Cuida dos espinhos e me deixa cuidar para que eles não te machuquem. Preciso confessar que provavelmente eu precisarei segurar tua mão quando sentir que o frio aqui dentro se tornou assustador. Só aperta forte e me coloca perto de ti. Nenhum refúgio será mais seguro do que o teu abraço.

Sabe, menino, acho que nossos destinos não se cruzaram por acaso. Assim como não é por acaso que eu me despeço sempre de você com o coração apertado e os olhos de criança esperançosa. Nunca te disse "adeus" porque eu sei que estamos destinados ao "até breve". Mesmo que eu não te veja, eu sou capaz de te sentir. Mesmo que eu não te toque, eu sou capaz de lembrar. E mesmo que seu perfume se perca no vento da distância, eu serei capaz de perceber o quanto existe de você em mim.

Talvez a gente sufoque o peito de tanto apertá-lo contra o travesseiro tentando enganar a ausência. Talvez a gente chore de saudade até cair no sono, até se dar conta que basta fechar os olhos e seremos capazes de sentir o carinho sútil que só amor é capaz de entender. Dizem por aí que chorar é o risco que se paga por ter se deixado cativar. Acho que teus olhos cativaram os meus como brisa: sorrateiro e suave. E quer saber? Tem sido doce compartilhar os segredos dos meus olhos com os teus.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Não deu para esperar


Para ler ouvindo "Açúcar ou Adoçante?"

É, cara, não deu para te esperar. Não deu para esperar você decidir que a gente valia a pena e voltar. Enquanto você insistia em uma relação sem futuro por aí, eu resolvi ir em busca da minha felicidade. É que eu cansei de abrir mão do meu destino por acreditar que você viria fazer parte dele. Cansei dessa história de vai e vem e de todas as noites em que deitei ao lado das suas incertezas. 

Não deu para esperar sua indecisão virar escolha, nem a ausência de possibilidades te mostrar que eu estava aqui. Segunda opção não combina com felizes para sempre, e talvez seu erro foi acreditar que a minha espera fosse sua única certeza. A gente cansa das faltas e, uma hora, a vida acaba jogando em nossa cara o prazer de se sentir completo.

Não deu para ver mais o pôr-do-sol imaginando quando seu ombro estaria ali do lado para olharmos na mesma direção. Anoiteceu e você simplesmente não veio. Anoiteceu e só tinha aquele céu de estrelas brilhando para acompanhar os meus sonhos. Acho que foi a lua quem me fez acreditar que a luz sempre existirá depois da escuridão, mesmo que as noites de insônia tentem me negar isso.

Desculpa, cara, mas não deu para retribuir as últimas mensagens de carinho. É que as cicatrizes me ensinaram a não acreditar naquilo que fere, e o nosso caso já me fez escrever todas as despedidas justas sobre a gente. Não tem mais segunda chance, nem segunda intenção, muito menos segundas amargas depois de domingos vazios. Não tem mais sofá em frente à porta, cama arrumada e o café sempre quente a sua espera. Não tem mais nossa música no radinho da sala, nosso poema preferido no livro de cabeceira, nosso retrato escondido na última página do meu caderno de escritos. Não tem mais nós.

Não deu para esperar você consertar todos as linhas mal feitas do caminho que o tempo foi desenhando para nós dois. Simplesmente não deu para te esperar, e eu resolvi abrir mão do que nunca existiu. Acho que a gente se perdeu na estrada e acabou ficando tarde para voltar em busca da direção certa. Acabou o tempo, acabou o vento. Sua ausência foi capaz de tornar brisa aquilo que um dia foi vendaval.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dorme aqui hoje


Para ler ouvindo "Se Tudo Pode Acontecer"

Deita aqui do meu lado e não precisa dizer mais nada. Sem compromisso de ligar no dia seguinte ou deixar um bilhete de despedida no criado mudo. Só deixa eu ser teu porto nesses dias de maré alta. Me abraça forte e deixa que o perfume do teu corpo me faça acreditar que amanhã tudo vai ficar bem mesmo sem você.

Dorme aqui essa noite. A gente divide o café e as piadas bobas. Nem precisa falar sobre seu dia, muito menos sobre o seu passado. Mas se quiser, meu colo será seu melhor abrigo. Às vezes, desabafar alivia aquela angústia inesperada no fim do dia. Às vezes, combinar nossos silêncios é o suficiente para acalmar um peito inquieto. Só não levanta e bate a porta. A cama é grande demais e o seu abraço ainda é a melhor coberta nas noites frias.

Deixa eu fazer tuas vontades. É que teu riso afasta toda possibilidade de tristeza, e meu coração anda querendo se aninhar na felicidade. Prometo te deixar ir embora quando tudo parecer ficar sério demais, quando as coisas perderem a leveza, quando o casual ceder lugar para as imensas complicações que a gente insiste em provocar. Você sabe, a gente ainda teme começar de novo e acha melhor seguir em frente sem riscos de sofrer, mesmo que isso signifique arriscar o amor.

Espera. Não fica triste! Eu tenho preferido deixar tudo claro para que teu peito não desperte à toa. Meu coração odeia ser acordado em vão e, quando não se irrita, ele chora pelas perdas que a vida traz. Não sei se a gente aguentaria outra aventura em busca de um final feliz, mas minha intuição nunca foi boa quando se trata de amor. Melhor não esperar nada: nem do amanhã, nem do acaso.

Só fica um pouco mais. Mais um abraço, mais um cochilo, mais um sorriso daqueles que aperta os olhos. Eu sei que o nosso combinado era não pedir mais, mas é que, no teu peito, meu desassossego vira paz. Não se perde de mim e nem deixa eu me perder. Mesmo sem promessas, é o conforto da tua companhia que eu tenho desejado todas as noites. Não se apressa, nem se atrasa. Apenas fica.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Mateus Palmeira

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Onde você guarda o preconceito?


Para ler ouvindo "Bossa"

Por onde anda teu preconceito, menina? Tem se escondido nos cachos negros que balançam nas esquinas de uma liberdade ou tem dormido nos afetos que andam gritando por aí? Me conta, menina, teu preconceito está por baixo das minissaias e dos pudores que carregam os olhos alheios ou vivem nos beijos de dois meninos em meio à praça central? Será que teu preconceito andou perdido em balanças e etiquetas luxuosas ou se refugiou nos sonhos daquele moleque da favela que só quer ter um nome e o direito de ser feliz?

Por onde andam tuas desculpas? Adormeceram no que te convém para despertarem com os tais valores convencionais que te formaram? Ou caminham juntas ao discurso de viver uma relação de amor e poréns? Será que a aceitação que você anda gritando por aí não tem andado negando os direitos de quem você diz amar? Será que a tua sabedoria não se perdeu em nome de uma fé que não atende nem as tuas próprias dúvidas?

Não sei bem, menina, mas as boas intenções que você diz esconder no peito não andam se mostrando em tuas falas ou teus gestos. Desculpa te contar, mas o que a gente guarda não afaga o peito de ninguém. As intenções não defendem quem sofre, muito menos confortam quem se machuca todos os dias. As tuas omissões, menina, não abraçam quem engole as dores a cada nascer do sol só pela vontade de ser feliz sendo quem é.

Eu sei que você também deve chorar todos os dias por alguma ferida que abriram em teu peito e disseram que a escolha era absolutamente sua. A vida tem se tornado um verdadeiro caos em busca de uma verdade que nunca existiu. Parece que o amor ao próximo tem se confundido com o ódio seletivo, com uma crença perversa, com uma moralidade que desconhece as diferenças humanas. Às vezes, olhar nos olhos do preconceito dói, assusta, faz a gente sair correndo e se esconder até que tudo passe. Mas não passa. O ser humano não aprendeu a fazer da vida um lugar mais terno e sorridente. O ser humano tem matado o respeito com a desculpa do pecado.

Desculpa te dizer isso, menina, mas é que mora em tuas mãos o remédio contra esse mal que machuca todos os dias alguém a tua volta. Não faz com que a dor do outro seja apenas um exagero de quem se diz vítima do preconceito. Lembra que, todas as noites, alguma ferida guardada em você vai latejar aquilo que mais ninguém consegue perceber. Se apronta e seja corajosa. Não tenha medo de parecer desafiar as normalidades que andam te dizendo ser de boa-fé. No fundo, quem luta pelo direito de cada um ser quem é luta pelo amor. E qual bem melhor do que aquele vindo de quem ama?

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu te esperei


Para ler ouvindo "Chacarera da Saudade"

Eu até te esperei. Em todas as madrugadas perdidas, em todos os copos de vinho solitários, em todas as viagens que planejamos e nunca deram certo. Eu te esperei enquanto você jurava ser só mais algumas semanas, só mais alguns problemas, só mais duas ou três noites sem dividir o travesseiro comigo. Eu esperei pelo teu sorriso ao acordar, como um convite para começar o dia bem. Esperei até o café esfriar, até a saudade não aguentar, até eu me acostumar com a tua ausência.

Eu te esperei sentado naquele bar da esquina, onde as palavras fugiram assim que nossos olhos se cruzaram pela primeira vez. Esperei teu carinho em minha nuca e o frio na barriga com a espera do teu beijo. Eu te esperei sentado no carro enquanto o vidro embaçava. Esperei que o sinal abrisse e o fluxo daquela avenida me levasse até você. Chovia, e eu já não sabia se inundava mais lá fora ou aqui dentro.

Mesmo com a certeza de que você não vinha, eu te esperei como quem acredita até mesmo naquilo que acabou. Eu esperei seu email de desculpas, sua ligação, seu imprevisto e até seu tempo perdido. Eu esperei sua mentira para que doesse menos do que a ausência de suas palavras. Mas você me negou até o não.

Duas noites depois, eu esperei que você passasse. Esperei que as lembranças fossem esquecidas, que a saudade se perdesse na rotina, que você fosse carta fora do baralho. Esperei que o amor fosse piada, que a amargura passaria com a madrugada e que amanhã a gente já não seria mais nada. Mas meu coração é uma criança que não soube crescer. Ele continuava esperando que depois da tempestade, sua volta repararia todos os danos por aqui.

Esperei te esquecer com outro beijo, te olhar sem desejo, te dizer que a esperança morreu. Esperei o dia em que sua ausência não fizesse falta e que te ter de volta estivesse fora dos planos. Esperei o tempo costurar os retalhos da alma, que fui rasgando enquanto te esperava. Esperei o cansaço, o final, os dias de sossego. Esperei os primeiros raios de sol sussurrarem que a espera tinha acabado e que, mais uma vez, o coração estaria pronto para esperar um novo amor.

Você passou.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Marcelo Morais

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Sobre voos, sonhos e fé


Para ler ouvindo "Nascente"

Dorme, menino. O vento não te assusta, e o medo resolveu dar trégua. Sonha com seus prazeres, porque aí nada pode te sufocar. Aqui fora a vida anda muito dura. Viver tem se tornado a batalha de quem grita mais alto e você sempre preferiu sussurar. Aquieta o peito essa noite e faz uma prece bem baixinho para que tudo fique bem. Por maior que seja o obstáculo, tua coragem insiste em dizer que sim, ainda sorriremos aliviados depois de todo esse caos.

Enquanto te vejo dormir, fico lembrando daquela história que você me contou ainda pequeno. Tuas fantasias de ser pássaro e teu desejo de tornar o céu tua casa. Não tinha como negar, teus olhos brilhavam por liberdade. As asas, os impulsos, o vento: tudo te encantava nesse mito de ser o homem do céu. Até a chuva você admirava. Dizia que era o céu abrindo o peito sufocado em uma enxorrada de sentimentos.

Quem dera se a vida escutasse todos os sonhos que a gente cultiva baixinho. Mas ela não obedece, é tão teimosa quanto a tua valentia e muda tudo. Traça novos caminhos, testa nossa fé e pede paciência. Alguém já viu menino ter paciência? Menino é devoto da pressa e sai logo pulando janelas ao invés de abrir portas. Menino não espera, paga pra ver onde tudo vai dar mesmo sem saber se vai dar em alguma coisa. E aí vem a vida jogando pesado com seu maior trunfo: o tempo certo. Sábio aquele que aprendeu cedo que o acaso não erra, ele espera sua distração para surpreender.

Não chora, menino. A dor chega para quem sente, e sentir é a melhor maneira de estar vivo. Cuida desses arranhões no peito e aprende de uma vez por todas que não existe certeza quando se trata de destino. Mesmo machucada, sua alma ainda alimenta a esperança no amanhã. Lembra quantos castelos de areia foi preciso ser refeito para que a onda não derrubasse tudo? É exatamente assim que a gente cresce. Todas as quedas foram só pequenos passos para que você levantasse ainda mais forte e destinado a sorrir. Parece balela, mas cada um sabe onde dói e onde mora o amor dentro de si mesmo.

Amanheceu. É hora de enfrentar todo o rancor daqueles que abandonaram sua alma de menino. Abre teus olhos, abraça a coragem e nunca desiste de acreditar no que vai chegar. Mais tarde, a gente sorri juntos e arrisca voar de novo. Talvez lá de cima seja possível ser livre e amar. Só não esquece nunca do que eu te disse baixinho antes de você dormir: que a sua fé seja amor e que ela nunca se perca. Só assim teu peito terá o conforto de viver em paz e teus sonhos nunca desistirão de existir.

Texto de Patrick Moraes

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A verdade escondida sobre nós dois


Para ler ouvindo "Suspiro"

A verdade é que você ainda mora em mim. As nossas fotos da viagem de janeiro, os bilhetes amassados com sua letra corrida, os sorrisos que engavetei na lembrança. O anel de brinquedo do seu aniversário surpresa, a dedicatória daquele livro de poesias que ficou meses na minha cabeceira, os beijos roubados. O brilho nos olhos quando nos encarávamos na cama, o cafuné distraído enquanto assistíamos ao seu filme favorito, o encontro de nossas mãos no meio da multidão. A verdade é que tudo isso ainda se esconde aqui.

Nossa casa arejada, nosso filho sorridente, o sonho de sermos melhor a dois. Nosso caso de amor secreto, suas pirraças matinais, nossa promessa de eternidade. Que tolice acreditar no eterno! A verdade é que a gente sempre fica tolo quando acredita completamente no amor. E o que é o amor senão a idealização do bem-estar eterno? Sem se dar conta, a gente inventa esse mesmo amor com a desculpa de ser feliz e corre o risco de desabar depois. No fundo, a gente sabe que o risco é grande, mas prefere ser audacioso e investir alto na possibilidade da fábula do pra sempre.

A verdade é que eu sempre disfarcei bem nosso fim. Acostumei a virar a página, escrever de novo, reinventar o amor nas frases invertidas ou nas reticências que dão o tom final. Aceitei nosso fim como uma verdade que nunca coube aqui dentro. Fingi. Disse adeus, acenei com um sorriso, mas enxuguei os olhos assim que te dei as costas. Era para ser só uma lágrima, mas inundou meu peito. Era para ser só um dia, mas prolongou. A verdade é que eu menti para deixar a vida seguir sem tanto sofrimento, sem você e sem a coragem de assumir que errei ao investir nessa história de amor.

Eu sei, não existe mais volta, muito menos explicações. Para falar a verdade, é esse vazio inexplicável que me faz não desejar outro fim para nossa história. Seria cruel demais resgatar a esperança de consertar o que deu errado. A verdade é que a gente sabe que nosso amor não tem reparo, não tem conserto, não tem segunda chance. Danificou assim que decidimos desistir de nós dois e da promessa de sorrir até mesmo quando nada desse certo. A verdade é que os arranhões não cicatrizam se a gente insiste em cair no mesmo lugar todas as vezes que decidiu levantar.

Talvez ainda guarde os pequenos pedaços de você secretamente e resolva relembrar cada vez que a sua ausência doer um pouco. Talvez eu continue mentindo até acreditar que esqueci nós dois de verdade. Talvez eu ainda more em você, me esconda em você, machuque você e provoque toda a ausência do nosso fim em seu peito. Mas, a gente nunca quis explicações para as nossas fantasias, muito menos para as nossas decepções. A verdade é que desistimos de remar. Afundamos. Naufraguei. Mas continuo fingindo que você foi passado e ponto.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Carta para os teus sonhos


Para ler ouvindo "Jogo do Contente"

Ei, menino. Estava te observando faz algum tempo. Ontem mesmo, te vi cabisbaixo, reclamando dessa tal de mudança que nunca chega. Parece que os dias continuam cinza mesmo que teu coração pulse forte toda noite desejando pelas cores. Lembro bem de quando você me contou que o teu travesseiro continua sendo o seu melhor amigo nas madrugadas de confidências, sonhos e melancolia. Sei bem como é isso. Me entrego as palavras quando nada parece ter solução.

Mas agora eu preciso te contar uma coisa. Teus sonhos não ganham asas sozinhos. É preciso determinação e coragem. Eu sei que essa coisa de deixar tudo para trás te apavora. É como se você tivesse começando do zero e, cá entre nós, o mundo é feito de gente que se assusta com a possibilidade de recomeçar. Um namoro, uma amizade, um trabalho ou até mesmo uma troca de visual: recomeçar é sair da estrada que você sabe que não vai dar em nada. E vamos ser sinceros? É muito melhor uma nova tentativa de encontrar o caminho certo do que viver uma esperança falida.

Às vezes, menino, a felicidade está ali, na porta, mas não do lado de dentro. Às vezes, a felicidade mora do outro lado da porta, e é preciso ter coragem de abri-la e ir embora. É preciso abrir mão, deixar de lado o seguro, esquecer o habitual e, simplesmente, seguir em frente. Não precisa olhar pra trás o tempo todo e se contentar com o que conseguiu até aqui. Inspire-se nas conquistas, mas saiba que daquela porta em diante existe um mundo de descobertas que pode ser seu. Ouse se desprender, ouse dizer que tudo é possibilidade, ouse inclusive duvidar do que virá. São nas certezas que mora o perigo do que é cômodo, e comodidade nunca mudou o mundo de ninguém.

Abre esse sorriso, aguenta firme o embrulho no estômago e leva contigo só o que acrescenta, menino. A felicidade pode até esperar sua coragem chegar, mas o tempo, definitivamente, está decidido a te roubar cada minuto em que você vacilou por esperar demais. Coloca na mala seus sonhos e faça uma viagem diariamente. É, aquela viagem por cada pequeno desejo. Mudar é sempre a melhor escolha quando os tons que pintaram seus dias já não colorem sua alma. Mudar é dizer que você quer mais do que o suficiente; que o habitual não te convence mais; que as coisas até aqui não te bastam.

Deixa de lado essa mania de abaixar a cabeça para os teus medos e dê espaço para que a coragem dos teus sonhos se tornem verdadeiros balões no ar. Vá em busca de um lugar que ninguém nunca saberá como é, mas que te colocará em um caminho surpreendentemente mais feliz depois que desistir de ficar parado. Se nada der certo, outras portas vão aparecer para te mostrar que o fim só existe para quem decidiu não mudar.

terça-feira, 24 de março de 2015

Eu queria que você viesse


Para ler ouvindo "Demorou Pra Ser"

Eu queria que você viesse de manhã cedo e me visse com o cabelo ainda bagunçado e os olhos cerrados tentando acreditar que era você. Que você chegasse de mansinho e me dissesse que ainda dava tempo de acreditar na tal felicidade, e que todos aqueles dias longe de você foram só uma prova de que o verdadeiro sentido está na espera. Eu queria que você trouxesse cafuné ao invés de bombons, sorrisos ao invés de flores e todas as histórias do seu dia ao invés de um cartão escrito "te amo".

Eu queria que você viesse de tardinha, para o chá das seis ou para um gole de água de coco olhando o pôr-do-sol. Que você sorrisse para o horizonte quando sentisse minha cabeça repousar no teu ombro. Eu queria que a gente sentisse aquela falta de palavras, aquela aterrorizante ausência de definições, aquele medo de não saber quando o pulsar do peito voltaria a sua frequência normal. Eu sei, ninguém gosta de incertezas, mas, no fundo, a gente também se incomoda com as mesmices dos lugares seguros.

Eu queria que você viesse no começo da noite, batesse em minha porta e me encontrasse de pijama. A gente sabe que você nunca foi daqueles que dá explicação para cada ida, muito menos para cada volta. Então, eu não te cobraria nada, nem o que te cabia, nem o que faltou ser quando você foi embora da última vez. Você deitaria em meu colo e esqueceríamos que lá fora tudo continuaria a ser do mesmo jeito, com a nossa distância, com a sua ausência, com a minha saudade. Era o truque barato que o nosso amor insistia em usar para disfarçar uma felicidade momentânea.

Eu queria que você viesse de madrugada, quando eu já estivesse dormindo, só para me desejar bons sonhos. Que eu nem te visse entrar, mas que você me cobrisse e fechasse a janela que eu sempre esquecia aberta por esperar que a nossa estrela te trouxesse para mim. Só dessa vez, eu queria não te ver, não ter certeza se foi sonho ou se, de fato, você veio. Só dessa vez, eu queria sentir que teu cheiro ficou na coberta que você me cobriu ou no pedaço do meu pescoço que você beijou antes de ir.

Eu queria que você viesse quando tudo por aí já não bastasse, quando você percebesse que a minha ausência era o vazio inexplicável dos teus dias. Quando seu pensamento em cada fim de noite viajasse para cá e você não soubesse como acalmar teu peito inquieto, incomodado com esse tempo que não chegava. Eu queria que você chegasse e ficasse; que você tivesse a certeza que vir já não era apenas fugir para um encontro casual com a felicidade. Eu queria que você viesse quando percebesse que nosso amor já não aguentava mais esperar pelo dia que você não precisasse mais vir. Só assim, a gente faria daqui o nosso abrigo, o nosso lar, o conforto de dois corações que estavam cansados de chegadas, partidas, ausências e saudade.

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 3 de março de 2015

Quando eu te disse adeus


Para ler ouvindo "Story in Blue"

Você foi embora, e eu quem disse adeus em silêncio. Eu sei, essa coisa de perder nunca foi fácil para você, que se acostumou desde cedo a ter tudo que quer e na hora que quer. Já não podia mais calar todas as vezes que ouvia você chamar aquilo de romance. É que já não faz mais sentido viver fingindo um amor conveniente. Para mim, amor de verdade só funciona se fizer sorrir, mesmo que chova; se acarinhar o peito, ainda que tudo seja confusão. Amor de verdade precisa vir no volume máximo, mesmo que a melodia soe calma noite ou outra.

Você, que parecia ser a falta que atormentava minhas noites de solidão, abriu a porta e foi embora com lágrimas nos olhos. Ainda me parte o peito te dizer que todo aquele vazio era carência, e que não fomos escritos para sermos dois. Na verdade, demoramos para peceber que já não havia sentido seguir o mesmo caminho se nossas mãos não se atavam mais. O melhor dos sorrisos só acontece quando a gente se permite viver juntos. 

Parece que aprendemos a conviver com as nossas presenças no meio dos farelos de um sentimento que se transformou em pura aceitação. Era cômodo acreditar que as nossas brigas passariam, mesmo que fosse mais lúcido entender que nunca fomos o sonho um do outro. Fomos passagem e nunca um cais, por isso nossos barcos perderam o rumo quando a maré encheu.

Desculpa se meu tom parece amargo, mas meu coração não aprendeu a ser meio termo. Nunca lhe pedi que ficasse, nem para um café, nem para vida inteira. Desculpa se meu peito já não se encanta mais com os nossos abraços. Não nego cada palavra de carinho que te entreguei, nem dispensaria todos os beijos que roubamos. Só que o tempo passou, e o nosso amor acabou se desencontrando. Na verdade, acho que o amor nem chegou a nos conhecer, mesmo que a gente quisesse preencher os nossos vazios com devaneios.

Sem mágoas, o melhor é seguir em frente. Cada um cuida de si e a gente torce para que o destino nos agracie com uma nova história de sorrisos, carinhos e, quem sabe, amor. Eu sei, não é fácil reconstruir as coisas por dentro, mas ser feliz exige coragem.

Texto de Patrick Moraes

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O que poderíamos ter sido



É tarde para dizer, mas eu achei que seríamos felizes para sempre. Naquela tarde em que senti seu perfume forte em minha camisa, meu estômago deu um nó só de pensar no que poderíamos ser daquele momento em diante. Mas eu levei duas semanas fugindo do que poderíamos ser e aí o tempo passou. Tempo quando passa vira passado e depois a gente descobre que o futuro não perdoa aquilo que a gente perdeu por pura indecisão.

Indecisão ou medo? Coração machucado uma vez, é coração que carrega um escudo por uma eternidade. Mas nada disso justifica tudo que poderíamos ter sido. Inclusive, meu bem, seríamos o casal mais feliz daquela avenida se você não tivesse deixado a multidão me levar. Esperei o tempo todo você me puxar pelo braço, olhar em meus olhos e gritar cada pedaço do seu querer como uma ordem de segurança para que ninguém se machucasse depois. Mas a espera é tão ingrata quanto a indecisão, e, outra vez, a gente se perdeu.

Queria muito te dizer agora que a gente ainda vale a pena, mas eu seria injusto com aquela coisa que vem do peito e a gente não tem o poder te comandar. Acho que valeríamos muito mais se tudo tivesse sido um pouco diferente: os desencontros, a falta de entendimento no olhar e até a sua mão que eu deixei de segurar por me perder na multidão. Mas não dá para mudar o que foi, muito menos o que não foi. Talvez seja melhor a gente culpar o destino e seguir em frente, acreditando que nós dois fomos escritos para se desencontrar.

Mais cedo, pensei em te mandar uma mensagem boba, sem qualquer arrependimento ou lágrimas nos olhos. Digitei uma frase e duas palavras, mas apaguei logo em seguida porque já não cabia mais a tentativa de te fazer sorrir. Acabei pegando nosso álbum de fotos para ter certeza que você ainda existia em mim. Não sabia se gostava da foto mais bonita ou da última, feita antes de você partir. Poderíamos ter sido tanta coisa, mas você preferiu que fôssemos só lembrança. Acho que viramos saudade daquela que se guarda, porque a saudade da espera se perdeu por aí.

Texto de Patrick Moraes

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Para você que vai chegar


Para ler ouvindo "João e o Pé de Feijão"

Ei, você que vai chegar. Não tenha pressa em vir. Já esperei tanto a sua presença que algumas noites imaginando como será sua chegada não fará das minhas insônias um desgaste tão grande. Mas não deixa de vir, não deixa de aparecer vestindo todo o conforto que a vida pede. Pode trazer em sua mão um tal de amor embalado em fitas de carinho. Prometo desembrulhar aos poucos e com cuidado. Não quero que nada se perca; nem a delicadeza do afeto, nem a sinceridade das palavras.

A vida anda tão amarga que seus dedos em meus cabelos já tornarão tudo mais terno no fim do dia. Basta chegar de mansinho e entrar. Deixei a chave debaixo do tapete e a luz do banheiro acesa. Não repara nessa minha mania de ter ao menos um pontinho de luz por perto, é que eu tenho medo de que você não me encontre no escuro e resolva não voltar outro dia.

Eu sei que você deve estar longe ou sem tempo. Por aqui, a correria da minha rotina anda me fazendo te esquecer um pouco. Na verdade, não só a correria. Andei me machucando novamente e, enquanto cicatrizava aquela ferida de um ex-amor, acabei tirando do pensamento essa ideia de que você viria. Mas nada como o tempo. Depois que a ferida sumiu, parece que a tal flor da esperança nasceu outra vez. Confesso que ainda duvidei se valia a pena acreditar de novo nessa ideia maluca de que você chegaria mesmo. Mas você sabe como eu sou. Nunca consegui me desfazer da ideia de que os nossos sorrisos combinam.

Desculpa se insisto na impaciência de vez em quando. Eu sei, eu sei, esperar é declarar guerra ao acaso. As surpresas do destino só acontecem quando a gente está distraído. Talvez você nem bata na minha porta, nem entre enquanto eu estiver dormindo ou nem veja a luz do banheiro acesa. Talvez a gente se encontre naquela multidão de gente chata e sem nenhuma graça. Talvez o meu sorriso distraído roube a atenção do seu olhar que, cansado, desistiu de procurar.

Só não esquece de vir despido do seu passado. Pode até trazer na mala algumas lembranças, mas nada que te impeça estar totalmente aqui. É que eu cansei de viver curando as dores expostas em fotos antigas e prefiro escrever uma história só nossa quando você chegar.

Texto de Patrick Moraes

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O tal do tempo certo



Você tem pressa! Pressa de que todas as realizações que, noite após noite, você idealiza com a cabeça no travesseiro e os olhos fechados aconteçam. Pressa de que o emprego dos seus sonhos apareça ou até que o par de alianças brilhe em cima daquela mesa de jantar. Você tem pressa que cada momento que você espera até os 30 se torne real de uma forma minimamente idealizada nos fins de ano ou depois que você apaga as velas de cada bolo de aniversário.

O problema é que a vida não tem pressa, muito menos se importa com esse tal de ideal que você cultiva desde que deu os primeiros passos. O tempo certo das coisas, de repente, não vem com a idade que você imagina. Mas você se cobra mesmo assim, sofre mesmo assim, alimenta uma angústia mesmo assim e ignora todos os poréns que possam desafiar a sua racionalidade.

E aí o tempo não tem piedade. Ele não espera você se recompor das frustrações, nem te dá a possibilidade de voltar para refazer suas escolhas. Decidiu, tá decidido. Conviva com todas as possibilidades de erro que possam vir e aprenda a ser feliz com elas. Se quiser mudar, não espere a próxima segunda ou o próximo ano. Datas só foram feitas para mensurar o tempo que você perdeu pensando no que poderia ter dado certo, caso você tivesse feito.

Mas você continua se cobrando por não ter escolhido as possíveis chances de ser feliz. E se você tivesse adiado aquela viagem e ficado mais três dias com alguém que poderia ter feito você mudar de planos pelo resto da sua vida? E se você tivesse ouvido a razão e deixado de lado essa mania boba de fazer o que seu coração manda? E se você se permitisse amar mais, mesmo com todas as cicatrizes que ainda carregam tantas lembranças? Nenhuma das suas dúvidas ganharia certezas se você tivesse escolhido o caminho contrário. O outro lado das suas escolhas sempre será a dúvida e, em algum momento da vida, você vai ser obrigado a seguir.

Desista dessa tal de certeza e vá se aventurar por aí. Mar calmo não faz bom marinheiro, assim como vida branda não desperta intensos sorrisos. Esquece essa história de apressar o passo e deixa que o tempo se encarregue de fazer dos acasos os seus melhores desejos. Uma vez me contaram que as maiores descobertas de felicidade são fruto das dúvidas mais cruéis. É como se o tempo afrouxasse os nós e mandasse você ser feliz. No fim, só consegue sorrir com a alma, quem já teve o peito sufocado.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Geovane Peixoto

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O tal do acaso


Para ler ouvindo "Meu Plano"

Sempre acreditei que tudo - absolutamente tudo - era uma questão de escolha. Escolher uma roupa e não saber exatamente se, no fim do dia, o frio vai te fazer desejar um abraço quente ou o calor te fará dividir uma cerveja no bar mais próximo. Escolher sair de uma relação em que os risos são mais raros que as brigas ou acreditar que, na manhã seguinte, ainda existirão flores para serem colhidas em uma possível segunda chance.

Entre todos os caminhos propostos e algumas vias alternativas, dia desses, acabei me deparando com o acaso. Parecia vestido de escolha, mas ele acabou me deixando poucas saídas. Sem o romantismo do amor à primeira vista, muito menos a balela de que amor a gente constrói, o acaso me trouxe você e ponto. Sem os clichês de filmes, mas com a dura realidade de que o nosso tempo estaria sendo contado por uma espécie de bomba relógio. A explosão da despedida não causaria danos físicos, mas deixaria um rastro de saudade que a gente jamais conseguiria calcular se não tivesse aceitado viver. E vivemos. Como dois apaixonados pelo acaso, fomos cúmplices de pequenos prazeres sem culpa.

Você, impiedoso, não me deu a chance de seguir olhando para frente. Eu, irresponsável, te entreguei algumas pistas do que seríamos se não houvesse essa tal da distância. O acaso, brincalhão, riu de nós dois e nos fez jurar uma espera cruel. Juramos e seguimos, com uma pequena vontade de, outra vez, entregarmos cada pedacinho de paixão entre beijos, sussuros e um pouco de frio no meio daquele verão.

Pensando bem, acho que até o acaso é capaz de te colocar contra a parede exigindo que você escolha entre correr riscos ou viver na solidão. Do alto da gangorra, eu escolhi me apaixonar quando o acaso me apresentou você. Mas o problema de se apaixonar não é o risco de não dar certo, é a possibilidade de sentir saudade daquilo que desperta a paixão.

Texto de Patrick Moraes



Uma foto publicada por A Gangorra (@agangorra) em