sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O que poderíamos ter sido



É tarde para dizer, mas eu achei que seríamos felizes para sempre. Naquela tarde em que senti seu perfume forte em minha camisa, meu estômago deu um nó só de pensar no que poderíamos ser daquele momento em diante. Mas eu levei duas semanas fugindo do que poderíamos ser e aí o tempo passou. Tempo quando passa vira passado e depois a gente descobre que o futuro não perdoa aquilo que a gente perdeu por pura indecisão.

Indecisão ou medo? Coração machucado uma vez, é coração que carrega um escudo por uma eternidade. Mas nada disso justifica tudo que poderíamos ter sido. Inclusive, meu bem, seríamos o casal mais feliz daquela avenida se você não tivesse deixado a multidão me levar. Esperei o tempo todo você me puxar pelo braço, olhar em meus olhos e gritar cada pedaço do seu querer como uma ordem de segurança para que ninguém se machucasse depois. Mas a espera é tão ingrata quanto a indecisão, e, outra vez, a gente se perdeu.

Queria muito te dizer agora que a gente ainda vale a pena, mas eu seria injusto com aquela coisa que vem do peito e a gente não tem o poder te comandar. Acho que valeríamos muito mais se tudo tivesse sido um pouco diferente: os desencontros, a falta de entendimento no olhar e até a sua mão que eu deixei de segurar por me perder na multidão. Mas não dá para mudar o que foi, muito menos o que não foi. Talvez seja melhor a gente culpar o destino e seguir em frente, acreditando que nós dois fomos escritos para se desencontrar.

Mais cedo, pensei em te mandar uma mensagem boba, sem qualquer arrependimento ou lágrimas nos olhos. Digitei uma frase e duas palavras, mas apaguei logo em seguida porque já não cabia mais a tentativa de te fazer sorrir. Acabei pegando nosso álbum de fotos para ter certeza que você ainda existia em mim. Não sabia se gostava da foto mais bonita ou da última, feita antes de você partir. Poderíamos ter sido tanta coisa, mas você preferiu que fôssemos só lembrança. Acho que viramos saudade daquela que se guarda, porque a saudade da espera se perdeu por aí.

Texto de Patrick Moraes

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Para você que vai chegar


Para ler ouvindo "João e o Pé de Feijão"

Ei, você que vai chegar. Não tenha pressa em vir. Já esperei tanto a sua presença que algumas noites imaginando como será sua chegada não fará das minhas insônias um desgaste tão grande. Mas não deixa de vir, não deixa de aparecer vestindo todo o conforto que a vida pede. Pode trazer em sua mão um tal de amor embalado em fitas de carinho. Prometo desembrulhar aos poucos e com cuidado. Não quero que nada se perca; nem a delicadeza do afeto, nem a sinceridade das palavras.

A vida anda tão amarga que seus dedos em meus cabelos já tornarão tudo mais terno no fim do dia. Basta chegar de mansinho e entrar. Deixei a chave debaixo do tapete e a luz do banheiro acesa. Não repara nessa minha mania de ter ao menos um pontinho de luz por perto, é que eu tenho medo de que você não me encontre no escuro e resolva não voltar outro dia.

Eu sei que você deve estar longe ou sem tempo. Por aqui, a correria da minha rotina anda me fazendo te esquecer um pouco. Na verdade, não só a correria. Andei me machucando novamente e, enquanto cicatrizava aquela ferida de um ex-amor, acabei tirando do pensamento essa ideia de que você viria. Mas nada como o tempo. Depois que a ferida sumiu, parece que a tal flor da esperança nasceu outra vez. Confesso que ainda duvidei se valia a pena acreditar de novo nessa ideia maluca de que você chegaria mesmo. Mas você sabe como eu sou. Nunca consegui me desfazer da ideia de que os nossos sorrisos combinam.

Desculpa se insisto na impaciência de vez em quando. Eu sei, eu sei, esperar é declarar guerra ao acaso. As surpresas do destino só acontecem quando a gente está distraído. Talvez você nem bata na minha porta, nem entre enquanto eu estiver dormindo ou nem veja a luz do banheiro acesa. Talvez a gente se encontre naquela multidão de gente chata e sem nenhuma graça. Talvez o meu sorriso distraído roube a atenção do seu olhar que, cansado, desistiu de procurar.

Só não esquece de vir despido do seu passado. Pode até trazer na mala algumas lembranças, mas nada que te impeça estar totalmente aqui. É que eu cansei de viver curando as dores expostas em fotos antigas e prefiro escrever uma história só nossa quando você chegar.

Texto de Patrick Moraes