domingo, 9 de março de 2014

Falta você


I’ve Just Seen a Face (The Voice Performance) by Dawn & Hawkes on Grooveshark

Falta você aparecer aqui em casa sem avisar, pedindo para dormir só essa noite ao meu lado enquanto eu te faço cafuné depois de secar sua saudade. Falta você programar aquela viagem do próximo feriado e só me ligar mandando eu arrumar as malas que está passando para me buscar depois do trabalho. Falta você me jogar contra a parede no meio daquela festa e, sem qualquer espaço para eu decidir se a gente vai continuar juntos ou não, me beijar como se fosse a última vez.

Falta aquele amor no meio da chuva, aquela preocupação com o resfriado no dia seguinte, aquele beijo na testa depois de uma noite intensa, como quem diz: “estou aqui para cuidar de você”. Falta a sua foto no mural do meu quarto, com um sorriso bobo em meio aquela careta que você sabe que eu não resisto. Falta aquele colo no fim de um domingo qualquer, para uma conversa sem qualquer sentido ou para discutir quantos filhos teremos e onde serei ainda mais seu depois do nosso casamento. 

Falta você descobrir que aos trinta anos a gente vai ser ainda mais apaixonado do que somos hoje. Que vamos dividir não só os desejos em bilhetinhos bobos, mas também as contas do mercado, a cama depois do trabalho, as preocupações de família e todas as manhãs em que você acordar com aquele mau humor. Falta você, até mesmo, para implicar com aquele ex-namorado, com aquela bebedeira da última festa de rua, com aquele dia em que não te liguei porque peguei no sono no meio das apostilas chatas de legislação.

Falta você me escolher para dividir os últimos dias de nossas vidas, em uma cadeira de balanço no meio da varanda lá de casa ou em uma caminhada no passeio velho do parque. Falta você sorrir, pela primeira vez, ao acordar cedo em pleno domingo e perceber que não falta mais nada, que está tudo ali contigo: tudo que um dia foi sonho e que, agora, se materializa em forma de companhia e do nosso amor.

Texto de Patrick Moraes

sábado, 8 de março de 2014

Para fazer nossa avenida mais colorida



Você partiu e eu fiquei aqui. Em pedaços de saudade que vou costurando como uma colcha de lembranças, arrematada pelos detalhes dos pequenos momentos que foram nossos dias atrás. Com olhos de menino e coração de criança, me despedi naquela tarde de sol com a certeza de que ainda é possível afastar o meu medo de não me fazer só. Ainda que de leve, o batuque das ruas se fez presente aqui dentro, como um sinal de que tudo ainda pulsa, tudo ainda tem vida.

Inacreditavelmente, me dei conta que é possível se apaixonar em trocas de olhares, de afetos ou em uma súbita entrega de corpos em uma terça profana. Parece até desesperador, mas, quem disse que se apaixonar é ter certeza de alguma coisa, nunca se viu tendo que domar os impulsos de fugir no meio da madrugada só para mais um beijo de despedida. É como fechar a porta de casa e dois minutos depois desistir de dormir só para deixar uma mensagem dizendo que preferia ter feito da sua cama o aconchego de uma noite a dois. É brincar de felizes para sempre, mesmo sabendo que esse tal de “para sempre” é como contos de fadas, com uma magia que na manhã seguinte se desfaz com a realidade.

Entre um simples “olá” e um abraço apertado no encontro inesperado. Entre uma vontade descarada minha e uma duvidosa entrega sua. Nós, que parecíamos tão perdidos no meio daquela multidão, nos inventamos em sorrisos, beijos, suor, mãos e carinhos apaixonados. Era como descobrir, no meio de toda aquela festa de serpentinas, os pedaços de uma vontade que teimava em querer ficar por mais um dia, por mais uma semana, por quanto tempo fosse preciso para nos descobrirmos em meio a desejo, carinho e atenção.

Suspirei ao me pegar contando os confetes que jogamos na noite anterior só para deixar aquela avenida mais colorida. Suspirei porque não sabia quando ia te proteger da chuva ou dividir o espaço de um sofá estreito contigo outra vez. Suspirei porque não sabia até onde aquilo tudo ia dar. Mas foi só assim que eu me dei conta de que se apaixonar não é ter certeza do quanto aquilo vai durar ou se vai durar. É apenas sentir que, naqueles instantes juntos, duas almas se encontraram e sorriram de um jeito ironicamente especial.

Texto de Patrick Moraes