domingo, 11 de abril de 2010

Entre dois

"I come and go just like that's just
how it's meant to be." (Beeshop)

A doentil mania de querer namorar acordou comigo naquela manhã. E, pior, eu tinha um encontro marcado há algumas horas e não tinha idéia de como lidar com aquilo. Realmente, eu estava protagonizando aquela comédia romântica que se assiste em pleno sábado a noite com uma vasilha de pipoca e um pote de chocolates entre as pernas. Era deprimente, mas era necessário. Sem cobranças, sem compromisso e sem saber o que viria de lá. De cá, só mais alguém indeciso, incompleto e desesperado.

Eu não era o professor bonitinho da academia que recebe uma cantada barata da gostosinha dada e simplesmente ri. Muito menos meu melhor amigo que poderia transar todos os dias com alguém diferente e seus problemas estariam resolvidos. Eu não poderia parecer desesperado, nem vulgar, nem atirado, nem frágil, nem nada do que se diz incorreto para um primeiro encontro. Sim, eu sou adepto dos manuais de primeira vez. Qual o problema?

Pronto, mais um. Abençoada essa chuvinha que resolveu mandar em dobro o que até ontem era desejo longe e improvável. Conciliar: não domino com destreza essa arte, mas para um principiante eu sentia que me sairia bem. Os monólogos em frente ao espelho e as teorias de Tati Bernardi não falhariam agora. Esperava assim! Para o elevador descer até o térreo foi quase o mesmo tempo de eu desistir e subir de escada os dez andares. Mas não, era tarde demais e já havia atendido o bendito celular. Quando eu digo que não gosto desse meio de comunicação não é sem razão, é covardia mesmo!

E foram dois universos, duas conversas, dois perfumes, dois toques, dois jeito de tocar em mim, dois beijos. A escolha estaria em minhas mãos e mais uma vez meu dedo podre faria seu papel melhor que meu dom de conciliar. Quase pensei em ter dúvida, quase acreditei que o cheiro do pescoço poderia ser atraente. Não, nem Vanessa da Mata seria capaz de me conquistar. Eu já tinha escolhido o calabouço mais fundo e mais charmoso e evidentemente menos claro para descer. Mas não dá pra acreditar que um poste dentro do mato convença alguém de que o amor existe, não é?

Texto de Patrick Moraes