domingo, 13 de agosto de 2017

Até quando será sobre você?


Para ler ouvindo "Meu Erro"

Simplesmente não chegou a hora. Eu ainda não estou pronto para ir em frente, para reconstruir todos aqueles planos que a gente cresce aprendendo que é necessário fazê-los. Um futuro a dois, uma casa com jardim, talvez alguns filhos, talvez um cachorro. Todos esses planos foram escritos com minhas risadas e os detalhes dos seus sonhos mais loucos. As sugestões de nome do nosso primeiro filho e o quanto ele torceria pelo seu time de futebol preferido em cada novo jogo. A viagem de um mês na lua de mel e a raça do cachorro que cresceria junto ao nosso pequeno.

É, os detalhes do que fomos não foram embora. Você ainda é o fantasma responsável por eu estar parado nessa mesma estação. Procurar o que fomos em alguém que chegou é o maior erro que podemos fazer para dar novos passos. A gente só consegue ir em frente quando o passado não nos prende mais, quando, de fato, estamos livres para escrever um novo futuro. Mesmo que eu saiba que essa é a resposta para te deixar ir, eu simplesmente escolho não embarcar.

Quantos anos as boas lembranças permanecerão? Quantos meses a esperança viverá? Quantos dias o desejo de te ligar mais uma vez estará aqui? Ainda é difícil saber quanto tempo eu preciso esperar para desistir de você e resolver insistir em mim. Sem a desculpa que não chegou a hora. Abandonar você por completo ainda é uma tarefa que exige esforço diário. Você mora nos pequenos detalhes dos meus sonhos e reconstruí-los exige coragem para encontrar o amor sozinho.

Escrevo hoje de uma forma diferente, com o desejo que você leia sem que eu precise me desculpar em estar te escrevendo. Notei que ainda te peço desculpa em quase todos as últimas cartas que te escrevi: tanto as que escondi, como as que enviei. Meu inconsciente ainda me sabota quando falo sobre você, mas você sabe que não existe qualquer tipo de culpa sobre o nosso fim. Eu precisava ir de um lugar onde você não queria ficar. Você desejava fugir de onde o amor nos exigia coragem para lutar. Já havíamos fracassado antes mesmo de nos darmos conta. Sua falta de coragem nos declarou derrotados antes mesmo do nosso fim.

Eu sei que essa é só mais uma carta que eu escrevo tentando respirar depois do tumulto. Ainda permanecerei nessa estação, inventando desculpas todos os dias para não embarcar até o momento em que não existir mais palavras em minhas tentativas de reescrever uma história que não teve o seu final feliz. Nesse dia, eu saberei o destino da minha próxima viagem, e o medo de desistir de você já não existirá, afinal de contas, não é possível abrir mão daquilo que não temos. A gente só escreve novas histórias quando decide abrir o livro em uma página em branco. Caso contrário, as marcas do passado ainda estarão lá, ocupando os espaços onde deveriam existir novas poesias.

Texto de Patrick Moraes
Foto de Jon Pereira

Esse texto faz parte do projeto Cinco Lados
"Desafio 13 - Um texto inspirado em um poema"